Assunto foi discutido no Ciclo de Palestras AMRIGS nesta quarta-feira (23/11).
O uso de anabolizantes sem recomendação médica cresce de forma silenciosa no Brasil. É difícil encontrar dados oficiais sobre o tema, pois os produtos vêm, geralmente, do mercado clandestino. Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) estima-se que 3,3% da população brasileira seja usuária ocasional ou frequente dessas substâncias. Os números podem ser ainda maiores porque há muita subnotificação dos casos em razão do comércio paralelo destas drogas.
O assunto foi tratado na última edição do ano de 2022 do Ciclo de Palestras da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), que ocorreu nesta quarta-feira (23/11), online via plataforma Sympla Streaming.
O que chama atenção no grupo de usuários de esteroides sem recomendação médica é que 18,4% são esportistas recreacionais e cerca de 13,4%, atletas. É importante destacar que esse tipo de substância é proibida pelo Comitê Olímpico Internacional desde a década de 1970.
Homens e mulheres que praticam atividade física como meio de lazer tornaram o uso indiscriminado para melhorar a aparência e, em muitos casos, o bem estar. A prática, no entanto, impõe uma série de riscos para a saúde.
A primeira convidada a falar no evento foi a médica Melissa Barcellos, mestre em Endocrinologia, especialista em Endocrinologia e Metabologia pela AMB; e coordenadora do Serviço de Endocrinologia do Hospital Mãe de Deus. Em sua apresentação com foco no uso de esteroides anabolizantes pelas mulheres, a médica ressaltou que respeitar o processo natural de envelhecimento é fundamental para evitar danos à saúde e alerta sobre o uso indevido de hormônios.
“É importante entendermos que o envelhecimento é um processo natural do ciclo da vida. Ele tem que ser respeitado e nós vamos interferir apenas quando houver doenças ou problemas relacionados a isso. Obviamente, precisamos procurar manter nossa saúde, até porque a tendência com processo de envelhecimento é que as doenças surjam, o que não quer dizer que nós tenhamos que interferir com uso de hormônios, nem sempre indicados”, apontou a endocrinologista
Entre as mulheres, o uso indiscriminado de anabolizantes pode provocar mudanças irreversíveis no organismo feminino. O problema tem sido alvo de preocupação também dos consultórios dos ginecologistas e urologistas. Para ampliar o assunto, o evento contou com a palestra de Adriana Lotus, ginecologista e obstetra (UFRGS-HCPA); com Doutorado em Ciências Médicas; preceptora da Residência Médica de Ginecologia e Obstetrícia. Ela apontou que a recomendação do uso de testosterona está sendo usado como uma espécie de atalho para tratamentos da saúde feminina.
“Há colegas que trabalham com a ideia de sempre repor hormônios masculinos nas mulheres, dando a ideia que eles estão em níveis muito baixos e que precisamos ser repostos, trazendo conclusões simplistas do que é a resposta sexual feminina,” criticou a ginecologista.
Para abordar a temática do ponto de vista masculino, o convidado foi o médico Herbert Sauer, especialista em Urologia; chefe do serviço de Urologia do Hospital Mãe de Deus e mestre em Urologia pela USP. Sauer destacou que a busca por uma utópica juventude eterna tem registros há muito tempo na história.
“A busca pela juventude eterna vira uma obsessão dessas pessoas e faz com que determinados indivíduos acreditem em soluções mágicas. Essas pessoas negligenciam os riscos dessas soluções. A gente nunca pode esquecer que um eventual efeito placebo, que é uma sensação de melhora usando uma droga qualquer para esses pacientes, vai ser uma tentativa de justificar o uso mesmo que não haja nenhum efeito objetivo constatado, é só uma impressão pessoal de melhora, ou ideia que venderam para o paciente de que ele estaria melhorando”.
A última palestra da noite foi apresentada pelo médico Clayton Macedo. Com doutorado em Endocrinologia; especialista em Medicina do Esporte; chefe do Núcleo de Endocrinologia do Exercício e coordenador do Ambulatório de Endocrinologia do Exercício, junto ao serviço de Medicina do Esporte da UNIFESP. Durante sua explanação, o especialista mostrou grande preocupação com o crescimento do mercado de anabolizantes e apontou os efeitos colaterais que o uso destas drogas podem causar ao organismo humano.
“A questão toda envolvendo esteroides anabolizantes é que ninguém duvida que eles são efetivos. A gente vê o efeito da droga, mas os problemas colaterais são o principal. Eles podem ser imprevisíveis, múltiplos e fatais. Não existe dose segura para quem não tem indicação científica de uso”, ressaltou.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o uso de anabolizantes gera efeitos colaterais como aumento de acne, queda do cabelo, distúrbios da função do fígado, tumores no fígado, explosões de ira ou comportamento agressivo, paranóia, alucinações, psicoses, coágulos de sangue, retenção de líquido no organismo e aumento da pressão arterial.
Esta edição do Ciclo de Palestras contou com a mediação do diretor Científico e Cultural da AMRIGS, Dr. Guilherme Napp. A realização foi da AMRIGS com apoio da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional RS e o patrocínio de Rede Agafarma de Farmácias e MoneyMark XP Investimentos.
Fonte: Airton Lemos
Foto: AMRIGS
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