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Caravana Digital AMRIGS aborda as consequências após quadros graves da Covid-19

Evento gratuito contou com a participação de especialistas das áreas de psiquiatria, neurologia e terapia intensiva

Com a proposta de integrar as Seccionais, Sociedades de Especialidade e atender às necessidades de cada região e com maior área de abrangência, a Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) promoveu na noite de terça-feira (16/03) a Caravana Digital AMRIGS 2021. O evento virtual e gratuito abordou o tema “Consequências Psicológicas e Neurológicas após Quadros Graves de COVID-19” e contou com a parceria da Associação Médica de Vacaria, Associação Médica de Caxias do Sul, Associação Médica do Vale do Taquari (Lajeado), Associação Médica de Bento Gonçalves e da Associação Médica de Venâncio Aires.

Dados recentes do Ministério da Saúde mostram que no Brasil há mais de 9,3 milhões de recuperados da Covid-19, sendo acumulado 10,5 milhões de casos confirmados da doença e 254 mil mortes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a chance de sequelas aumenta em pacientes graves que tiveram permanência prolongada em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e necessidade de usar aparelhos respiradores.

O médico psiquiatra da Unidade de Internação Psiquiátrica do Hospital São Lucas da PUCRS e membro da Diretoria da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS) e do Centro de Estudos em Psiquiatria Integrada (CENESPI), Dr. Lucas Spanemberg, explica que foram observados impactos significativos no quadro emocional de pacientes que demonstraram sintomas depressivos persistentes após uma infecção pela Covid-19.

“Dos 3.904 indivíduos com COVID-19 investigados, 2.046 (52,4%) apresentam sintomas depressivos após a infecção. Importante lembrar que a depressão está diretamente proporcional a gravidade da doença que é acompanhada, ainda, de sintomas de transtornos obsessivo-compulsivo (TOC) e estresse que podem ser bastante duradouros”, afirmou.

O especialista apontou, também, dados da Association of Psychiatric Disorders With Mortality Among Patients With COVID-19, que apresenta um estudo de risco com 7.348 adultos com Covid-19 em Nova York, com um diagnóstico no espectro da esquizofrenia diretamente associado a um fator de risco aumentado de mortes em 45 dias.

No quadro geral, as consequências psiquiátricas do SARS-CoV-2, segundo Spanemberg, podem ser causadas tanto pela resposta imune ao próprio vírus como pelos fatores psicológicos como a morbidade da doença, confinamento e isolamento social, incerteza e imprevisibilidade, reação ao estresse e o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), reações ansiosas, exposição excessiva a notícias e redes sociais, desinformação e aumento do consumo de álcool.

Já o médico plantonista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do Rio Grande do Sul (SOTIRGS), Dr. Wagner Nedel, destacou alguns problemas pontuais que pacientes recuperados enfrentam, como a Síndrome pós cuidados intensivos (PICS – Post Intensive Care Syndrome).

“Após meses de internação, surgem limitações funcionais como a incapacidade de se vestir, tomar banho e comer sozinho. Fazer uma compra, entregar um dinheiro e pegar um troco, ou tomar sozinho seus medicamentos, são algumas das principais falhas cognitivas nestes pacientes”, observou.

Ainda, conforme o especialista, após três meses de recuperação, foram identificadas alterações pulmonares em 91% dos casos, redução da difusão de CO alterado em 42% dos casos, baixa capacidade para exercícios em 22% dos casos, fadiga em 69% e, 72% dos casos registraram piora na qualidade de vida.

“Os próximos anos serão desafiadores para o nosso serviço de saúde acolher da melhor maneira esses pacientes com sintomas neurológicos. Quanto maior a gravidade desses pacientes maior será incidência de delírio. Estamos diante de casos extremamente graves de alteração do estado de consciência. Além disso, há relatos de familiares que se mostram incapazes de entendimento das situações, o que gera transtornos adaptativos a todo o cenário atual, que resultam em privação do sono e conflitos familiares, por exemplo”, afirma.

Para fechar o ciclo de apresentações, o médico neurologista da internação, emergência neurológica e pesquisa neurológica no Hospital Mãe de Deus, Dr. Henrique Mohr, ressaltou sequelas neurológicas que podem acontecer em diferentes níveis nos pacientes após a recuperação da Covid-19.

“Apesar de ainda não ser possível explicar como a COVID-19 causa os sintomas, as teorias atuais mostram que as lesões e a falta de oxigênio nos neurônios podem ser os maiores responsáveis e isso ocorre, especialmente, pela via olfatória. Mas a doença ainda é um mistério”, diz.

Mohr destacou estudos do New England Journal of Medicine, que documentam os sintomas neurológicos em variações nos casos leves, como dificuldades cognitivas à confusão mental e delírios, cefaleia e mialgia. Já em casos mais graves, as consequências mais comuns são encefalites, hemorragia, trombose venosa, AVC isquêmico, mudanças necróticas e a Síndrome de Guillain-Barré, com sintomas que começam com fraqueza e formigamento nos pés e nas pernas e podem gerar uma paralisia.

Fonte: Marcelo Matusiak

Foto: Reprodução de Imagem

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