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Ciclo de Palestras AMRIGS aborda os desafios de saúde pública após desastres climáticos

Evento contou com relatos de especialistas que analisaram as principais infecções no cenário pós-enchente

A Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) realizou, na noite desta terça-feira (25/06), mais uma edição do seu Ciclo de Palestras, desta vez com as discussões voltadas para as infecções no pós às enchentes ocorridas no estado. O evento foi transmitido online via Sympla Streaming e contou com a participação de profissionais de diversas áreas da saúde. O professor titular de Saúde Coletiva da UFCSPA, médico de Família e Comunidade do Grupo Hospitalar Conceição e conselheiro da AMRIGS, Dr. Airton Stein, foi o mediador do encontro.

A primeira fala foi da médica de Família e Comunidade e ginecologista obstetra, Dra. Ana Amélia Bones, que relatou a realidade das vítimas das enchentes em Porto Alegre.

“Inicialmente as pessoas perderam documentos, roupas e casas, saindo sem seus remédios. O atendimento foi emergencial. Agora, temos outras preocupações, como a saúde mental, já delicada devido ao isolamento e à perda de negócios, casas e entes queridos. Outro aspecto é que atendo diariamente pessoas que estão limpando suas casas e se machucam com objetos escondidos na lama, como cacos de vidro, pregos e outros materiais cortantes, resultando em ferimentos e infecções devido ao contato prolongado com a umidade”, relatou.

O diretor Científico da Sociedade Gaúcha de Infectologia e coordenador da Câmara Técnica de Infectologia do Conselho Regional de Medicina do RS (CREMERS), Dr. Paulo Ernesto Gewehr Filho, enfatizou os riscos iniciais enfrentados durante as cheias, mas que estão repercutindo até agora.

“Com o início das enchentes, enfrentamos riscos de afogamento e semi-afogamento devido à ingestão de água potencialmente contaminada. A água da chuva e dos rios se misturou com as redes de esgoto, trazendo bactérias, vírus e outros agentes que causam doenças diarreicas e infecciosas. O contato inicial com essa água também apresenta risco de leptospirose e hepatite A”, contou.

O médico também chamou a atenção para os perigos por conta do contato com animais igualmente agitados e tensos.

“Houve muitos resgates de animais de estimação. Esses pets, estressados e amedrontados, acabaram arranhando e mordendo socorristas e voluntários, resultando em ferimentos que podem levar a infecções bacterianas pela flora típica de cada animal, além do risco de transmissão de raiva. Muitos desses animais estavam sem dono e sem registros de vacinação anti-rábica, expondo ainda mais pessoas ao risco de contrair a doença”, destacou.

O infectologista pediátrico e chefe do Controle de Infecção e Infectologia Pediátrica da Santa Casa de Porto Alegre, Dr. Fabrizio Motta, explicou as diferentes etapas das infecções em desastres.

“Em uma catástrofe, as infecções ocorrem em três fases: imediata, precoce e tardia. É importante entender bem cada momento. A fase imediata, que vai de quatro a dez dias, é marcada principalmente por lesões de pele. A fase precoce, entre quatro e dez dias até quatro semanas, traz infecções respiratórias, contaminações de alimentos e início de problemas causados por vetores. A fase tardia, após quatro semanas, inclui infecções com períodos de incubação mais longos. No entanto, essa fase tardia pode ser considerada mista, pois infecções relacionadas à exposição inicial à enchente também aparecem quando as pessoas retornam aos seus lares e sofrem novos ferimentos, resultando em lesões e infecções de pele novamente”, detalhou.

O profissional também destacou infecções relacionadas à contaminação da água e alimentos; infecções respiratórias como vírus respiratórios, tuberculose e doenças meningocócicas; infecções dermatológicas e infecções fúngicas ao retornar para casas úmidas. Nos abrigos, os riscos aumentam devido à superlotação, condições inadequadas de saneamento e redução do abastecimento de água e alimentos. Grupos mais vulneráveis como idosos, crianças, imunossuprimidos e pacientes com doenças crônicas estão especialmente em risco. Além disso, as baixas taxas de vacinação agravam a situação e a falta de infraestrutura de saúde foram apontados como um problema crítico.

Medidas preventivas

Entre as medidas práticas na preparação para eventuais episódios futuros, o presidente do Conselho de Representantes da AMRIGS, Dr. José Renato Grisólia, enfatizou a importância de algumas ações básicas.

“Manter prontuários e registros históricos dos pacientes de forma digital é crucial para garantir a continuidade da assistência médica em emergências como esta. Não interromper os tratamentos e o acompanhamento de pacientes crônicos e vulneráveis, que pertencem a grupos de risco, é fundamental. A vacinação imediata desses grupos deve ser uma prioridade. Igualmente, é importante criar sistemas de saúde móveis, que atendam às demandas nos abrigos. A saúde mental também requer atenção especial por meio de terapeutas ocupacionais e outros profissionais”, concluiu.

A participação no evento contou com um valor simbólico de inscrição de R$ 5,00. O valor arrecadado será integralmente doado para as vítimas das enchentes no RS.

Fonte: Marcelo Matusiak
Foto: Reprodução de imagem AMRIGS

Uma resposta

  1. Este simpósio foi muito oportuno e de extremo interesse esclarecedor parabéns mais uma vez contribuindo com a população

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