Zika, malária, filariose, dengue, esquistossomose, leishmaniose, doença de Chagas, febre amarela. Esta é uma pequena amostra da extensa lista de doenças transmitidas por vetores. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), todos os anos são contabilizados mais de um bilhão de casos e cerca de um milhão de mortes em decorrência desses agravos. Os avanços e desafios da pesquisa na área foram discutidos no curso internacional Achievements and challenges for controlling vector-borne diseases in a changing world, promovido pelos programas de pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) entre os dias 5 e 23/9, na sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro. A iniciativa, que beneficiou mais de uma centena de alunos, é parte do compromisso de internacionalização das atividades de Ensino oferecidas pelo Instituto e teve financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O curso contou com 25 pesquisadores, entre brasileiros e estrangeiros, incluindo renomadas instituições ” cientistas do Instituto Pasteur (França), Universidade Johns Hopkins (EUA) e Universidade de Edimburgo (Escócia) estiveram entre os professores. Além de abordar a ecologia e a evolução das doenças infecciosas, foram discutidas ferramentas de controle ainda em fase de desenvolvimento que buscam reduzir o impacto das doenças transmitidas por vetores. “O curso reuniu estudantes e cientistas oriundos de diferentes grupos de pesquisa para discutir uma série de novas tecnologias que podem auxiliar os métodos tradicionais no controle de vetores. Um dos ganhos da atividade foi abrir oportunidade para novas colaborações científicas que podem, inclusive, envolver intercâmbio de alunos de pós-graduação do IOC/Fiocruz”, destacou o pesquisador Rafael Freitas, coordenador do Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária do IOC/Fiocruz e líder da iniciativa.
Avaliação positiva
Para o pesquisador da Universidade do Texas Medical Branch (UBMT), nos Estados Unidos, Grant Hughes, a atividade contribuiu para estimular o intercâmbio de conhecimento. “O encontro encoraja e inspira novas gerações a seguir em frente e a desenvolver novas abordagens para combater as diferentes doenças transmitidas por vetores”, salientou o especialista em interações entre patógenos e vetores. “O recente surto de zika no Brasil é uma evidência da importância do estudo das doenças transmitidas por vetores. Diferentes vetores estão transmitindo diferentes patógenos, o que obriga a pesquisa a ir além para entender essas interações”, reforçou Grant.
A médica alemã Cathrin Kodde, que se mudou para o Brasil para estudar doenças tropicais, foi uma das participantes. “Tenho grande afinidade com a área de Medicina Tropical e a Europa, em geral, não é o melhor local para estudar o tema. Vim para o Brasil para pesquisar doenças tropicais, a chikungunya em especial, e outros agravos transmitidos por vetores. O curso foi extremamente importante, porque eu mergulhei em assuntos que eu nunca poderia na Europa”, destacou Cathrin, que atua como pesquisadora visitante no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).
Já Robson dos Santos Souza Marinho, pós-graduando em Microbiologia e Parasitologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), considerou a diversidade de metodologias apresentadas e a troca de conhecimento como os pontos positivos do evento. “Foi uma experiência única poder conversar com especialistas de diferentes instituições que, com sua experiência, puderam contribuir para a construção do meu projeto”, afirmou. Para a estudante do Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária do IOC/Fiocruz, Isabella Dias da Silveira, o encontro ampliou a possibilidade de novas colaborações em pesquisa. “Conheci especialistas renomados com os quais, até então, somente havia tido contato por meio de artigos científicos e publicações em revistas. Além de aprender um pouco mais sobre os estudos em desenvolvimento pelo mundo, esclareci as minhas dúvidas pessoalmente e recebi sugestões sobre o meu trabalho”, afirmou Isabella.
Sobre o curso
As doenças discutidas ao longo do curso são causadas por patógenos e parasitas. Podem ser transmitidas por insetos que se alimentam de sangue, como os mosquitos Aedes aegypti, por exemplo, ou por outros vetores como carrapatos, moscas, flebotomíneos, pulgas, triatomíneos e alguns caramujos aquáticos de água doce.
O curso internacional foi liderado pelo Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Biologia Parasitária do IOC/Fiocruz a partir de um consórcio nacional formado por 14 Programas de Pós-Graduação, distribuídos pelas cinco regiões do país. A iniciativa foi contemplada no edital Escola de Altos Estudos da Capes.