Em áudio publicado pelo portal Correio Braziliense, no sábado dia 21, o novo diretor executivo da Geap Saúde, Roberto Sérgio Fontenele Candido, afirmou que a instituição de autogestão ” que administra atualmente cerca de 456 mil vidas ” está muito perto da falência. Além desta declaração, que ocorreu em cerimônia de posse de gerentes da filial do Distrito Federal realizada recentemente, Fontenele disse que “se quiser trabalhar com a gente, tem que trabalhar sem roubo. Hospital também rouba. Mas rouba muito. Médico, rouba muito. Se tem aqui algum médico, é médico nosso, não rouba”. FEHOSUL, FEHOESG, FENAESS, FBH, CREMESP, AMRIGS e AMB foram algumas das entidades que emitiram nota de repúdio e/ou entraram com notificação extrajudicial cobrando explicações.
Primeira entidade a se pronunciar contra as declarações, na tarde de domingo, 22, a Federação dos Hospitais do RS (FEHOSUL) destacou, através de seu presidente, Claudio Allgayer que “mesmo que a declaração tenha sido feita num ambiente fechado, as irresponsáveis generalizações demonstram uma atitude preconceituosa e altamente reprovável em relação aos dois segmentos que são parceiros da Geap, o hospitalar e o médico. Ambos são os responsáveis efetivos pelos serviços que ela ´vende´. Sua finalidade não existe sem os serviços destes dois segmentos, que atendem a totalidade dos beneficiários da operadora”. Cláudio Allgayer, que também ocupa o cargo de vice-presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNS), entidade que representa hospitais de todo o Brasil, acrescentou: “cria internamente [na Geap] uma visão errada e desrespeitosa que não é sadia, nem ajudará a entidade a sair do “atoleiro” em que se meteu”.
Fontenele liga para FEHOSUL
Na segunda-feira, 23, Allgayer recebeu uma ligação do diretor da GEAP, ocasião em “Fontenele pediu desculpas e prometeu trabalhar para estreitar as relações, além de prometer enviar nota de esclarecimento no final do mesmo dia”, segundo informações do presidente da FEHOSUL ao portal Setor Saúde. Na nota enviada após o contato telefônico inicial, Fontenele diz: “Resta-nos esclarecer, mais uma vez, que comunicação gravada e difundida de forma clandestina e irresponsável, nos gerou desgastes iniciais desnecessários, haja vista a realidade de origem do áudio ter se dado em ambiente interna corporis. E mais, sua difusão desordenada, ter fomentado compreensões distintas às nossas práticas laborais e crenças profissionais. Ter expressado de maneira generalizada pode não ter sido adequado”.
Repercussão nas entidades
Outras entidades se pronunciaram, na mesma linha da FEHOSUL, condenando as declarações de Fontenele. A FEHOESG, FENAESS (também pertencentes ao Sistema CNS) e a FBH, foram algumas das entidades a emitirem nota de repúdio.
“A FEHOESG exige respeito aos prestadores de serviços de saúde, pois entende que a má gestão da Geap deve ser sanada de forma séria, com responsabilidade e punindo possíveis irregularidades, mas sem jamais atacar ou comprometer a reputação de todo um segmento que vem trabalhando de forma ética e honesta para garantir o atendimento aos clientes da operadora”, diz a nota assinada pelo presidente da entidade, médico Salomão Rodrigues.
“O diretor da GEAP admite que há um rombo gigantesco em sua empresa e ao invés de propor soluções, transmite a responsabilidade da má gestão do plano de saúde a quem dela não pactua. Tais declarações são repugnantes e negligentes em sua consequência. A rede de prestadores não pode e não será responsabilizada por atos desonestos praticados por um determinado grupo. A FENAESS informa que já notificou extrajudicialmente o senhor diretor da Geap. O próximo passo será ingressar na justiça pedindo retratação e explicações sobre tais declarações negligentes e caluniosas”, compreende parte do texto difundido pelo presidente Breno Monteiro, da FENAESS.
“A Federação Brasileira de Hospitais (FBH), entidade de classe que representa em todo o país a rede hospitalar privada, tendo tomado conhecimento das lamentáveis e irresponsáveis manifestações, tachando de ladrões os aludidos estabelecimentos de serviços de saúde, proferidas pelo recém-empossado à presidência da Geap, o senhor Roberto Sérgio Fontenele Candido, publicadas no Jornal Correio Braziliense em 21 de abril, vem repudiar tais palavras orientando a assessoria jurídica da FBH a tomar todas as providências legais cabíveis diante do cometimento dos referidos atos, penalmente caracterizados como crimes contra a honra e boa fama dos citados hospitais”, lamenta o presidente da Federação Brasileira de Hospitais, Luiz Aramicy.
Dentre as entidades médicas, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) destacou que “repudia a declaração do diretor executivo da Geap Autogestão em Saúde, Roberto Sérgio Fontenele Candido, que acusa médicos e hospitais de “roubar” os planos de saúde, conforme divulgado pelo Blog do Vicente, do jornal Correio Braziliense, no último dia 21/04. Declaração dessa natureza, sem apontar culpados e sem apresentar provas concretas, além de irresponsável configura-se injúria e difamação. Se realmente o presidente da Geap tivesse a intenção de apontar possíveis irregularidades, com a seriedade que requer o tema, ele faria suas denúncias contra os médicos e os hospitais às devidas instâncias. Ao acusar médicos e hospitais de “roubar” os planos de saúde, o diretor da Geap camufla uma situação do próprio grupo que dirige: a Geap Saúde é uma das operadoras que pior remunera os médicos no país. O Cremesp reforça sua indignação com a declaração do diretor da Geap e exige que o mesmo se retrate, publicamente, com pedido de desculpas à classe médica”.
Assinada pelo seu presidente, Alfredo Floro Cantalice Neto, a nota da AMRIGS pontua que “para qualificar o atendimento médico no país é preciso responsabilidade e seriedade no trabalho. A AMRIGS, como entidade associativa médica, prega total transparência e correção em qualquer atividade profissional. Acusar, no entanto, sem a devida comprovação, é um crime contra toda a categoria médica que cumpre com excelência o seu papel na sociedade brasileira, mesmo diante de condições extremamente difíceis. O país enfrenta uma grave crise na saúde dedicando recursos escassos para o setor e condições de trabalho inadequadas para prática do exercício profissional. Mesmo assim, médicos se esmeram para superar todas as dificuldades”.
Já a AMB pediu em NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL que Fontenele especifique “em relação a que médicos e hospitais se refere” e “se as condutas apontadas seriam generalizadas ou estariam restritas, temporal ou geograficamente, a algum contexto específico”. Ainda de acordo com a manifestação da AMB, “é preciso esclarecer as declarações, para que não pairem dúvidas sobre os fatos. Como também não podemos aceitar a generalização num caso como esse” afirma o presidente da AMB, Lincoln Lopes Ferreira. “Na condição de entidade representativa dos médicos em âmbito nacional, e diante da gravidade das afirmações que ofende a toda uma categoria profissional, a AMB enviou NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL, ao diretor executivo da Geap, onde cobra as informações”.
A Geap é a segunda operadora de auto gestão em número de vidas (beneficiários) no Brasil, ficando atrás da Caixa de Assistência do Banco do Brasil, que possui mais de 686 mil vidas. Fundada em 1945, a GEAP Saúde atende servidores públicos federais ativos, aposentados e familiares.
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