Resultados que apontam para gene possivelmente associado à alta prevalência da condição em região da América do Sul foram apresentados em congresso internacional
O lábio leporino com ou sem a fenda palatina é causado pela junção inadequada dos dois lados da face quando o bebê ainda está no útero. Esta malformação congênita caracterizada pela separação do lábio superior em duas partes (no caso do lábio leporino) com ou sem uma fissura no céu da boca até a base do nariz (fenda palatina) acarretam dificuldade para falar, respirar e comer até que a criança realize uma série de cirurgias reparatórias. Para investigar as causas ainda pouco compreendidas destas condições, um estudo que contou com a colaboração de pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), identificou um gene que pode ser um dos responsáveis por esta anomalia em populações sul-americanas que apresentam altas taxas de ocorrência.
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Flavia Martinez apresenta cartaz na Conferência Europeia de Genética Humana (Foto: Divulgação) |
O grande número de fatores ” genéticos, étnicos, sociais, econômicos e ambientais ” associados a esta malformação é um obstáculo para a determinação de suas causalidades. “Se considerarmos o conjunto de mutações até agora associadas com fendas orais não relacionadas a síndromes, elas explicariam aproximadamente apenas 10% de todos os casos”, explica Flavia Martinez de Carvalho, pesquisadora do Laboratório de Epidemiologia das Malformações Congênitas do IOC. Aspectos socioeconômicos também podem estar relacionados à etiologia complexa desta malformação genética: nutrição deficitária e uso de álcool durante a gravidez, por exemplo, podem colaborar para a ocorrência.
Além desses fatores já conhecidos, o estudo demonstrou que a ancestralidade ameríndia também pode ser um dos fatores de risco. “A nossa pesquisa sugeriu algumas regiões gênicas candidatas que, associadas com a etiologia complexa e multifatorial do problema, promovem as fendas orais em um determinado número de famílias da Patagônia, região que apresenta uma alta prevalência desta condição”, explicou Flávia.
A hipótese foi levantada a partir da análise do DNA, utilizando chips de microarranjos de genotipagem de 30 famílias, totalizando 113 pessoas, sendo 31 afetadas diretamente pela doença. Com base nestes dados, os especialistas identificaram que uma região incluindo o gene FAM110B pode estar relacionada à malformação neste grupo étnico. “Compreender individualmente cada uma das condições que podem originar o problema irá colaborar para o entendimento global desta anomalia congênita, que demanda um tratamento médico complexo e multidisciplinar”, completou a pesquisadora.
Os próximos passos do estudo incluem a investigação genética de famílias acometidas pela malformação provenientes das regiões Sudeste e Norte do Brasil. O objetivo é a descoberta de genes candidatos que ajudem na compreensão da etiologia complexa desta malformação, reconhecida mundialmente como um problema de saúde pública.
O estudo, que contou com a colaboração de pesquisadores do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto Nacional de Genética Médica Populacional (iNaGeMP), da Divisão de Genética do Instituto Nacional do Câncer (INCA) do Rio de Janeiro, do Estudo Colaborativo Latino Americano de Malformações Congênitas (ECLAMC) e de instituições de pesquisa dos Estados Unidos, Espanha e Argentina, foi apresentado durante a Conferência Europeia de Genética Humana, realizada em Glasgow, na Escócia, em junho desse ano. Promovido pela Sociedade Europeia de Genética Humana (ESHG, na sigla em inglês), o encontro, que já está em sua 49ª edição. Clique aqui para fazer o download da revista com os resumos da Conferência (conteúdo em inglês).
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