Líderes mundiais sinalizaram nesta quarta-feira (21) um nível sem precedentes de atenção para tratar a propagação de infecções resistentes aos medicamentos antimicrobianos. A resistência antimicrobiana ocorre quando bactérias, vírus, parasitas e fungos desenvolvem resistência contra os medicamentos que antes eram capazes de curá-los.
Pela primeira vez, os chefes de Estado se comprometeram a focar em uma abordagem ampla e coordenada para enfrentar as causas profundas da resistência antimicrobiana em vários setores, especialmente saúde humana, saúde animal e agricultura. Esta é a quarta vez que um problema de saúde é retomado pela Assembleia Geral das Nações Unidas (os outros foram HIV, doenças não transmissíveis e ebola). A reunião de alto nível foi convocada pelo Presidente da 71ª sessão da Assembleia, H.E. Peter Thomson.
“A resistência antimicrobiana ameaça a realização dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e requer uma resposta global”, afirmou Thomson. “Estados-Membros concordaram hoje em uma forte declaração política que fornece uma boa base para a comunidade internacional avançar. Nenhum país, setor ou organização pode resolver esse problema sozinho.”
Os países reafirmaram seu compromisso para desenvolver planos de ação nacionais sobre resistência antimicrobiana baseados no “Global Action Plan on Antimicrobial Resistance” ” plano para combater o problema desenvolvido em 2015 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em coordenação com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e Organização Mundial da Saúde Animal (OIE). Tais planos são necessários para compreender a escala do problema e cessar o uso indevido de medicamentos antimicrobianos na saúde humana, saúde animal e agricultura. Líderes reconheceram a necessidade de sistemas fortalecidos para monitorar as infecções resistentes às drogas e o volume de antimicrobianos usados em humanos, animais e plantas, bem como uma maior cooperação e financiamento.
Os líderes também se comprometeram a reforçar a regulação dos antimicrobianos, aprimorar o conhecimento e a conscientização e promover melhores práticas ” assim como fomentar abordagens inovadoras que utilizem alternativas aos agentes antimicrobianos e de novas tecnologias, diagnósticos e vacinas.
“A resistência antimicrobiana é uma ameaça fundamental para a saúde humana, para o desenvolvimento e para a segurança. Os compromissos feitos hoje devem ser converter em medidas rápidas e eficazes para salvar vidas nos setores de saúde humana, animal e ambiental. Estamos correndo contra o tempo”, afirmou a diretora-geral da OMS, Margaret Chan.
Infecções comuns e potencialmente fatais como pneumonia, gonorreia e infecções pós-operatórias, assim como HIV, tuberculose e malária são cada vez mais intratáveis devido à resistência antimicrobiana. Se nada for feito, prevê-se que a resistência antimicrobiana tenha consequências significativas a nível social, de segurança da saúde e econômico, que prejudicarão gravemente o desenvolvimento dos países.
Os altos níveis de resistência antimicrobiana vistos atualmente são resultado do uso excessivo e incorreto de antibióticos e outros agentes antimicrobianos em humanos, animais (incluindo peixes de viveiro) e plantas, assim como a propagação de resíduos desses medicamentos no solo, colheitas e água. Dentro de um contexto mais amplo, a resistência aos antibióticos é considerada o maior e mais urgente risco global que requer atenção nacional e internacional.
“A resistência antimicrobiana é um problema não só em nossos hospitais, mas em nossas fazendas e em nossa comida. A agricultura deve assumir sua parcela de responsabilidade, utilizando antimicrobianos de forma mais responsável e reduzindo a necessidade de usá-los por meio de uma boa higiene nas fazendas”, disse o Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva.
“Antibióticos eficazes e acessíveis são tão vitais para proteger a saúde e o bem-estar animal e uma boa medicina veterinária quanto são vitais para a saúde humana. Instamos as autoridades nacionais a apoiar fortemente todos os setores envolvidos por meio da promoção do uso responsável e prudente, boas práticas e implementação das normas e diretrizes estabelecidas”, alegou a Diretora-Geral da OIE, Monique Eloit.
Líderes presentes na reunião da ONU pediram que a OMS, FAO e OIE, em colaboração com bancos de desenvolvimento como o Banco Mundial e outras partes interessadas, coordenem seus planejamentos e ações e os informem à Assembleia Geral da ONU em setembro de 2018.
Os países pediram uma melhor utilização dos instrumentos acessíveis já existentes para prevenir infecções em humanos e animais. Isso inclui imunização, água potável e saneamento, boa higiene em hospitais e criação de animais. A criação de sistemas para garantir o uso adequado de antibióticos (novos e já existentes) também é essencial.
Além disso, foram destacadas falhas de mercado e solicitados novos incentivos para investimentos em pesquisa e desenvolvimentos de novos, eficazes e acessíveis medicamentos; testes de diagnóstico rápido; e outras terapias importantes para substituir aquelas que estão perdendo seu poder.
Os países enfatizaram que a acessibilidade e o acesso aos antibióticos existentes e novos, vacinas e outras ferramentas médicas devem ser uma prioridade global e levar em conta as necessidades de todos os países.