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Os caminhos entre a cirurgia e a psiquiatria

Vida de Médico: Psiquiatra Nélio Tombini

A história do psiquiatra Nélio Tombini na medicina teve origem em sua infância, quando tinha 13 anos de idade, em um acontecimento triste que foi a morte de seu pai. O projeto de trabalhar com o pai no ramo de madeireiras não foi possível, mas com certeza, hoje, ele se orgulharia da trajetória construída pelo filho na Medicina.

“Comecei minha carreira inaugurando a residência em cirurgia no Hospital de Clínicas e, após, fui trabalhar na cidade de Guarani das Missões, em 1974. Fui convidado pelo Dr João Polanczyk, que era o único médico na cidade. Trabalhava dia e noite e sempre com muita tensão porque apesar da minha boa formação médica, não me sentia totalmente preparado porque era necessário conhecimento em todas as áreas da medicina. Eram tempos muito diferentes de hoje. Quando o colega saia de férias, eu passava um mês só, muitas vezes, passando dias insones. Para que tenha uma ideia, eu anestesiava o paciente e, ato continuo, ia operá-lo. ficando os cuidados da anestesia com uma freira. Tive crises de ansiedade que apareciam em forma de diarreias e rinites. Era um grande estresse. Não tínhamos laboratório e apenas um aparelho de RX. Valia a velha semiologia.

Outra experiência foi em Catanduva, no Paraná. Estava no 6º ano de medicina e atendi um paciente e consegui fazer o diagnóstico de raiva humana, o que era e é raro. O paciente chegou em um jipe todo de metal e com vidros fechados. Estava agitado, com a bexiga visivelmente aumentada e não podia urinar. Salivava e a temperatura corporal dele estava quase 40 graus. Achei o quadro estranho. Ele não podia tomar água e se engasgava e também pedia para fechar as janelas, apesar do forte calor. Lembrei dos aprendizados da infectologia sobre hidrofobia e aerofobia. Eram conceitos antigos mas que me ajudaram a fechar o diagnóstico. Ao conversar com a família, relataram que cachorros na residência haviam morrido. Sabendo da gravidade, encaminhei o paciente para neurologista amigo em Cascavel. Faleceu, fizeram necropsia e foi constatado “corpúsculos de Negri” no cérebro. Fiquei com muito medo de contaminação pois manipulei o paciente sem uso de luvas, costume na época. Na dúvida, fiz 40 doses de vacina antirrábica subcutânea, mesmo sabendo que o risco de contaminação inexistia.

Estando há um mês em Guarani das Missões, o colega tirou um 30 dias de férias. Enfrentei uma situação tensa. Os colonos começaram a usar inseticidas organofosforatos. Foi uma experiência nova nas lavouras e eles se entusiasmaram e começaram a aplicar os produtos sem qualquer proteção. Houve uma intoxicação coletiva e o hospital ficou completamente lotado com pacientes nos corredores, convulsionando e em coma. Faltava material para as injeções e nos virávamos como podíamos. Ninguém, dos colegas da região, tinha experiência com este tipo de intoxicação. Felizmente, o tratamento paliativo foi suficiente e ninguém morreu. Este episódio ajudou este médico jovem, recém chegado, que não passava segurança para a população, a ser acolhido e reconhecido pela comunidade.

Em 1977 fiz a especialização em psiquiatria. Percebia que não havia muitas vezes doenças físicas e sim pessoas que somatizavam e muitos pacientes com sinais de doenças psiquiátricas. Acho que também me ajudou a entender e trabalhar também com minhas ansiedades. Trabalhei em diversos locais como Hospital São Pedro, Hospital Espírita, José Murialdo, e depois fui para Santa Casa, onde criei o Serviço de Transtornos de Humor. Foi uma maneira de levar para dentro de um hospital geral um olhar sobre as doenças psiquiátricas, como a depressão muito presente em pacientes hospitalizados. A Santa Casa foi um espaço onde mais me desenvolvi como psiquiatra e psicoterapeuta, pois tinha espaço para ser criativo. Trabalhei por 25 anos com psicoterapia de grupo para pacientes do SUS, onde chegava a ter grupos com 50 pacientes. Eram grupos semanais, que podiam participar familiares e os pacientes vinham quando queriam e podiam. Também era uma forma de desafogar o ambulatório, pois os pacientes estabilizados podiam renovar as receitas antes de começar o grupo, sem passar por consultas individuais.

Hoje, na Santa Casa estamos desenvolvendo grupos de acolhimento a todos os residentes da instituição, pois temos percebido o incremento de doença mental nestes colegas que acarretam uso excessivo de tranquilizantes, depressão, abandono da formação e casos de risco de suicídio.

Fundei fora da Santa Casa a Psicobreve, que tem 27 anos de existência, onde contamos hoje com um grande número de psiquiatras e psicólogos. Atendendo crianças, adolescentes, adultos e casais, funcionando das 8h-20h e aos sábados pela manhã. Além das terapias com psicofármacos, também oferecemos psicoterapias breves, até 15 sessões. Os usuários de convênios são 80% de nossos atendimentos.

Há cerca de cinco anos desenvolvo um projeto psicoeducativo, onde procuro transferir conhecimentos, entendimentos e tento instrumentalizar as pessoas para que tenham mais intimidade com a vida emocional, e desta forma, possam ter uma vida menos conflituosa. Realizo, para tal, palestras para instituições, workshops, vídeos no YouTube, além do livro que escrevi: “A arte de ser infeliz: desarmando armadilhas emocionais”.

Ainda existe muito preconceito com os sofrimentos causados por transtornos psicológicos e psiquiátricos.

Confira vídeos do médico

https://www.youtube.com/channel/UC4_0Rf78bRhAQY13ZJEHFFQ

Fonte:  ASCOM AMRIGS

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