A delegação brasileira participou ativamente, na tarde desta terça-feira (21), do simpósio “Atingindo os 90-90-90: novas direções nas áreas clínica, operacional e de políticas públicas”, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no IAS 2015, o Congresso da International Aids Society, em Vancouver, Canadá.
O debate teve como moderadores o diretor do Departamento de HIV/Aids da Organização Mundial da Saúde, Gottfried Hirnschall; o ministro da Saúde da África do Sul, Yogan Pillay, que administra o maior programa de aids do mundo (o país africano tem 6,4 milhões de pessoas vivendo com o HIV); e a professora da Universidade de Columbia, Wafaa El-Sadr, do Centro Internacional para Tratamento da Aids.
O diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita, foi um dos comentaristas da sessão, ao lado de Tsitsi Mutasa-Apollo, do Ministério da Saúde e Bem-Estar Infantil do Zimbábue, e de Christian Hui, do movimento de pessoas vivendo com HIV do Canadá.
Foram apresentados quatro casos práticos de implementação do 90-90-90 em quatro diferentes países: Zimbábue, Ruanda, Costa do Marfim e Ilhas Maurício, que apresentaram suas cascatas de atenção e os pontos fortes e fracos de seus programas, todos já alinhados aos novos protocolos lançados pela OMS no último domingo (19), em Vancouver.
O Brasil foi mencionado como um exemplo por Sabin Nsanzimana, do Centro Biomédico de Ruanda, em virtude de seu papel pioneiro da implementação do “Testar e Tratar” em dezembro de 2013; a iniciativa brasileira foi uma das inspirações para o país africano na implementação de seu programa bilionário de atenção, chamado Todos Inclusos, em que todas as pessoas são tratadas, independentemente de sua carga viral, desde julho de 2014.
O Brasil também foi elogiado na última edição da publicação “Maximizando o Potencial de Tratamento e Prevenção das Drogas Antirretrovirais: primeiras experiências dos países em busca da implementação da política de tratar a todos”. O resultado mais destacado foi o aumento em 30%, entre 2014 e 2013, no número de pessoas em tratamento antirretroviral no país, em virtude do novo protocolo de tratamento brasileiro, publicado em dezembro de 2013.
Ao comentarem as experiências dos países moderadores, os debatedores e os responsáveis pelas apresentações afirmaram, em uníssono, que os gestores devem se preocupar sempre com a sustentabilidade dos programas. Pillay, cujo país se comprometeu a atingir a primeira meta do 90-90-90 em 2018, disse que as metas dos três 90 devem ser também monitoradas em cada Estado, distrito ou província. Wafaa avaliou que os programas devem enfocar a aquisição de medicamentos de dose fixa combinada, como o “3 em 1”, o “2 em 1” ou outros que vierem a ser criados, mas que o preço dessas combinações deve ser compatível com a primeira linha.
Mutasa-Apollo lembrou que também é fundamental para a sustentabilidade dos programas que os preços dos exames de carga viral sejam mais baixos, especialmente para os países de menor renda. Fábio Mesquita sugeriu que a inovação baseada na ciência deve nortear os programas: “Se fizermos sempre o mesmo, não conseguiremos avançar”, afirmou. Mesquita elogiou a iniciativa de usar tratadores leigos em ações de cuidado em algumas regiões da África, conforme apresentado por Getrude Ncube, do Zimbábue. Para o diretor do DDAHV, outro ponto-chave é o monitoramento dos resultados, e sugeriu que os países sigam o protocolo de monitoramento da OMS.
Hirnschall encerrou o simpósio, lembrando que “protocolos são protocolos, os quais, por sua vez, têm de ser transformados em políticas e as políticas têm de ser implementadas”.
PrEP Brasil – Mais cedo, Beatriz Grinsztejn, da Fundação Oswaldo Cruz, apresentou dados preliminares do estudo PrEP Brasil, que está sendo realizado para a aplicação da profilaxia no Brasil. São objetos do estudo as populações de homens que fazem sexo com homens e de mulheres trans no Rio de Janeiro (Fiocruz) e em São Paulo (CRT-SP e FMUSP). O estudo é cofinanciado pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
Após rigorosa seleção, 409 pessoas estão participando do estudo. A maioria delas, 46,2%, tem idades variando entre 26 e 35 anos. Para atrair as mulheres trans para o projeto, a Fiocruz contratou um educador que conscientizou diferentes comunidades de mulheres trans do Rio sobre a importância do PrEP Brasil.
Comunidade científica e indústria – Após o debate sobre o 90-90-90 e os novos protocolos da OMS, Mesquita foi convidado pelo comitê científico do IAS para participar de uma atividade do Fórum de Ligação com a Indústria da International Aids Society, coordenado pelo professor Kenneth Meyer.
O fórum reuniu indústrias farmacêuticas e fabricantes de testes para uma consulta com membros da IAS e da indústria sobre a integração do cuidado do HIV e outras doenças.