Na última quinta-feira (27/09), ocorreu na sede da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) mais uma edição do Ciclo de Palestras, desta vez, em alusão ao Setembro Amarelo. O tema abordado foi “Prevenção do Suicídio Baseado em Evidências e Aconselhamento do Luto”, com a psiquiatra infantil Berenice Rheinheimer, o médico psiquiatra Rafael Moreno e o médico de família e comunidade e monge zen budista, André Yakusan Silva.
O evento iniciou com a Dra. Berenice falando sobre suicídio na infância e adolescência. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a estimativa é de que aconteçam cerca de 800 mil suicídios por ano. Desses, aproximadamente 67 mil são de menores de 19 anos. Em 2017, o Rio Grande do Sul ficou em segundo lugar no índice de epidemia do suicídio. Roraima ocupou a primeira posição. Essa é a 3ª causa de morte na adolescência.
“A divulgação de notícias sobre suicídio influenciou no aumento de casos”, explicou a psiquiatra. Para ilustrar, a médica utilizou o caso de ator coreano. Antes de a notícia de seu suicídio ser divulgada, o número de casos no país era de 84. Após, a quantidade subiu para 1.251 casos.
De acordo com Dra. Berenice, o perfil de quem comete suicídio não é o mesmo de quem faz tentativas. Por isso, ela reforça a necessidade da realização de ações de cuidado específicas para cada grupo e apresentou campanhas de prevenção ao redor do mundo, como a “Ponte da Vida”, na Coréia do Sul, que reduziu em 85% o número de mortes. A ação teve início em 2012 e consiste em um sensor que ativa luzes quando alguém se aproxima da borda de segurança. Em frente às luzes estão frases como “Vá ver as pessoas de quem você sente saudade” e “Os melhores momentos da sua vida ainda estão por vir”.
Já o Dr. Rafael Moreno focou sua apresentação no suicídio entre adultos. Homens, entre 40 e 49 anos, cometem mais suicídio do que mulheres. Em pesquisa realizada pelo médico com cerca de 50 mil pessoas através da internet em todo o Brasil, 60% das pessoas já teve pelo menos um pensamento suicida passageiro. Aproximadamente 50% conseguem cometer suicídio na primeira tentativa. Dessas, 50% tiveram diagnóstico de algum transtorno mental e/ou já passaram por algum clínico mental. Entre as características da tentativa de suicídio, 60% age impulsivamente, 14% passa cerca de 6 meses planejando o ato, e 22% já tentaram ambos.
A respeito do apoio de amigos e familiares, Dr. Rafael diz que “a pessoa com depressão não tem vontade de fazer nada, nem de tomar banho. Ela não vai marcar psiquiatra. É necessário que ela seja levada por amigos e familiares. E sim, funciona”.
“Para cada suicídio, são afetadas direta ou indiretamente, mais de 100 pessoas”, disse o Dr. André Yakusan Silva, médico e monge zen budista, que trouxe informações e reflexões a respeito do aconselhamento do luto, que caracterizou como um processo.
Entre as diferenças do luto e da depressão, estão a culpabilidade pela situação, que no é dirigida aos outros e ao destino e na depressão é à própria pessoa; os sintomas psicóticos, que não ocorrem no luto, embora seja possível imaginar ou ver e ouvir o falecido; e a evolução dos sintomas, que são persistentes na depressão e flutuantes no luto.
Conforme Dr. André, distúrbios de sono e apetite, e isolamento social são comportamentos característicos de quem está passando pelo processo do luto. Para auxiliar, é necessário ajudar a pessoa a se dar conta da perda e a viver sem o falecido. Para lidar com o luto por suicídio, aconselha-se escutar sem julgamentos, críticas ou preconceitos, ser paciente e não evitar o nome de quem faleceu.
A próxima edição do Ciclo de Palestras acontecerá em 18 de outubro, durante o Outubro Rosa, abordando os avanços do tratamento do câncer de mama e saúde da mulher. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (51) 301-2039 ou pelo e-mail capacitacao@amrigs.org.br.