O Mapeamento de Susceptibilidade Magnética, que é feito por meio de Imagem de Ressonância Magnética (IRM) é mais sensível e específico para quantificar ferro in vivo em pacientes com Doença de Parkinson. Já se sabia que pessoas com Doença de Parkinson apresentam maior concentração de ferro na substância negra, mas a quantificação só era possível por meio de amostragem de tecido cerebral de autópsias. Essa quantificação, por meio de imagem in vivo, ou seja, de pessoas vivas, foi resultado do mestrado do físico-médico Jeam Barbosa, no programa de pós-graduação em Física Aplicada à Medicina e à Biologia, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.
O pesquisador utilizou o mapa de susceptibilidade magnética, além de mapas de Relaxometria (ferramenta convencional para quantificar ferro por IRM) para avaliar a região da substância negra e outras regiões do cérebro como: globo pálido, putamen, núcleo caudado, tálamo e núcleo rubro. “Com o mapa de susceptibilidade foi possível visualizar uma maior concentração de ferro no cérebro de um grupo de pacientes com Doença de Parkinson quando comparado a um grupo de sujeitos saudáveis. E essa maior concentração estava somente na região da substância negra, a qual é conhecida como a principal região de morte de neurônios dopaminérgicos em pacientes com a doença de Parkinson”, revela.
Para Barbosa, no futuro, o diagnóstico para a Doença de Parkinson poderá ser complementado com essa nova ferramenta e, além da avaliação diagnóstica por imagem convencional, os pacientes parkinsonianos poderão ser beneficiados com novos estudos desta técnica de imagem, que é relativamente nova e se mostrou mais sensível e específica. “Ela também vai possibilitar, em um futuro próximo, avaliar a progressão da doença e possíveis testes terapêuticos em estudos a longo prazo”, comemora.
Resposta Magnética
O mapa de Susceptibilidade Magnética (QSM – Quantitative Susceptibility Mapping), quantifica uma propriedade intrínseca de cada tecido: a susceptibilidade magnética, ou seja, tecidos com acúmulo de ferro apresentam valores positivos de susceptibilidade porque são paramagnéticos. Tecido paramagnético apresenta resposta magnética a favor do campo magnético aplicado. Tecidos sem acúmulo de ferro ou com calcificação são diamagnéticos com valores ligeiramente negativos e com resposta contrária ao campo magnético.
Outra vantagem apontada pelo pesquisador para o uso da ressonância magnética é o fato de que o mapa de susceptibilidade pode ser gerado com imagens de baixa resolução. Fato que torna curto o tempo de aquisição deste tipo de exame de imagem: para um cérebro adulto, em torno de 3 a 4 minutos. “Com isso, este procedimento poderia ser incluído no estudo de diversas doenças neurodegenerativas relacionadas com acúmulo de ferro e outras neurodegenerativas”, diz Barbosa.
A pesquisa foi feita no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, com a orientação do professor Carlos Ernesto Garrido Salmon, do Laboratório de Pesquisa INBRAIN, do Departamento de Física da FFCLRP, e com a colaboração dos professores Ewart Mark Haacke, do MRI Institute for Biomedical Research, de Detroit, Estados Unidos, e Antônio Carlos dos Santos e Vitor Tumas, ambos da FMRP.
Desenvolvimento
Foram analisados, durante dois anos, 30 pessoas saudáveis e 20 pacientes diagnosticados com doença de Parkinson. Todos passaram por exames de ressonância magnética, com a obtenção das imagens que, posteriormente, foram processadas em computador, usando rotinas implementadas pelo Laboratório de Pesquisa INBRAIN. O último passo foi uma comparação estatística entre os valores obtidos nos mapas do grupo controle e dos pacientes para oito regiões diferentes do cérebro de ambos os hemisférios.
O pesquisador afirma que, no País, a quantificação indireta de ferro no cérebro in vivo tinha sido explorada somente com técnicas de Relaxometria e Ultrassonografia e que em seu estudo usou a Susceptibilidade Magnética por ela possuir uma informação mais direta do acúmulo de ferro em tecidos da substância cinzenta. “Isso resultou em uma maior sensibilidade para diferenciar o grupo de sujeitos saudáveis dos pacientes com doença de Parkinson”.
Na literatura internacional, tinha sido publicado em 2012 um trabalho diferenciando um grupo controle de um grupo de pacientes com doença de Parkinson, usando resultados somente do mapa de Susceptibilidade e apenas na substância negra. No estudo em Ribeirão Preto, também foram avaliadas outras regiões dos núcleos da base e simultaneamente o mapa de Relaxometria. Foi “isso que permitiu identificar o mapa mais sensível e específico para diferenciar os grupos controles de pacientes com Doença de Parkinson”.
Segundo Barbosa, após um mês da apresentação do seu estudo, foi publicado um outro trabalho, realizado por pesquisadores da Universidade do Japão e da Universidade de Nova York, com resultados muito semelhantes.
O mestrado de Barbosa foi defendido em 2013. No início de 2015, o trabalhoQuantifying brain iron deposition in patients with Parkinson”s disease using quantitative susceptibility mapping, R2 and R2* foi publicado na revista Magnetic Resonance Imaging.
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