Audiência Pública debate efeitos das enchentes na saúde mental e destaca papel das entidades médicas

Com participação da AMRIGS, encontro na Assembleia Legislativa reuniu lideranças e especialistas para discutir estratégias de cuidado e reconstrução emocional da população gaúcha

Os impactos das enchentes de 2024 na saúde mental da população gaúcha foram tema de audiência pública realizada na manhã desta quarta-feira, 12 de novembro, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O encontro, conduzido pelo deputado estadual Elizandro Sabino, reuniu autoridades, representantes de entidades médicas e profissionais da saúde para discutir as consequências psicológicas da tragédia e propor ações conjuntas de enfrentamento.

A Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) foi representada pelo presidente Dr. Gerson Junqueira Jr., que destacou a importância de refletir sobre o cuidado com a saúde mental não apenas das vítimas diretas das enchentes, mas também dos profissionais envolvidos nos atendimentos. Segundo ele, a intensidade do trabalho e o contexto emocional vivido por médicos, socorristas e equipes de apoio geraram sobrecarga e sofrimento.

Compreender e tratar as sequelas psicológicas do desastre é parte essencial do processo de reconstrução do estado. Durante a situação de emergência, a AMRIGS atuou e mobilizou esforços e insumos para auxiliar a população.

“Vivemos uma verdadeira operação de guerra, com profissionais e voluntários engajados para ajudar quem mais precisava. A preocupação da Associação Médica, junto às Sociedades de Especialidades Médicas, é entender quais ações estão sendo feitas para que possamos garantir assistência e atendimento médico adequado a todos que enfrentam consequências emocionais e mentais desse período”, ressaltou Dr. Gerson.

A entidade recebeu, organizou e distribuiu mais de 200 toneladas de donativos, incluindo roupas, alimentos, produtos de higiene, roupas de cama e medicamentos. A ação beneficiou milhares de famílias em todo o estado, que contabilizou 80 mil pessoas desabrigadas e 540 mil desalojadas em decorrência das enchentes.

O deputado Elizandro Sabino, proponente da audiência, observou que o encontro representa um momento fundamental de escuta e articulação. Para ele, analisar o que já vem sendo feito e quais são as perspectivas futuras é essencial para o fortalecimento da rede de cuidado em saúde mental.

A vereadora e psicóloga Tanise Sabino, presidente da Frente Parlamentar da Promoção da Saúde Mental, também reforçou a urgência de políticas públicas voltadas aos grupos mais vulneráveis.

“Estudos mostram que eventos como este podem desencadear transtornos mentais, entre eles ansiedade, depressão e transtorno estresse pós traumático. Pessoas que já tinham essas condições são mais vulneráveis ainda. É fundamental oferecer atenção especial aos grupos de risco e aos que já conviviam com transtornos mentais”, destacou.

A presidente da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), Dra. Ana Cristina Tietzmann, apontou que a tragédia expôs a necessidade de preparar o sistema de saúde para responder também aos efeitos psicológicos das crises climáticas e explicou que o Núcleo de Vulnerabilidade Climática e Ambiental da APRS foi criado após as enchentes, com o objetivo de aprofundar estudos e pesquisas sobre o tema.

“Precisamos pensar não apenas na reconstrução física, mas também na mental. A carga de doenças mentais já era elevada antes das cheias e é indispensável planejar estratégias para as próximas crises”, observou.

O debate contou ainda com a participação de Guilherme Henrique Mariano, do Núcleo de Saúde da Defensoria Pública do RS; Jenifer de Mello, presidente do Conselho Regional de Psicologia do RS; Dr. Ricardo Nogueira, do Núcleo de Psiquiatria do Sindicato Médico do RS (SIMERS); Marilise Fraga de Souza, diretora do Departamento de Atenção Primária e Políticas de Saúde da Secretaria Estadual da Saúde; além de vereadores dos municípios de Venâncio Aires, Alvorada e Eldorado do Sul.

A audiência reforçou a importância da integração entre o poder público, as entidades médicas e as instituições de saúde mental para a criação de protocolos, capacitação de equipes e implementação de políticas voltadas ao bem-estar da população.

Fonte: Ana Carolina Lopes/ASCOM AMRIGS
Fotos: Ana Carolina Lopes/ASCOM AMRIGS