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Opinião | Violência contra médicos: a face mais cruel do colapso na saúde

A Medicina é, por definição, um ofício a serviço da vida. Amparada pelo Código de Ética Médica, exige dedicação, zelo máximo pelo paciente e autonomia para agir conforme a ciência e a consciência. Não há espaço para descuido. Apenas para a entrega diária em prol da saúde. Para isso, os profissionais precisam de condições adequadas, remuneração justa e respeito, inclusive o direito de recusar situações que coloquem em risco sua integridade ou a dos pacientes.

Essa premissa, porém, tem sido sistematicamente violada. Nas últimas décadas, a saúde pública no Brasil vem se deteriorando: subfinanciamento crônico, falta de planejamento e ineficiência transformaram hospitais e unidades básicas em cenários de caos. Embora a Constituição garanta saúde como direito de todos e dever do Estado, a população não tem suas necessidades atendidas e, em desespero, reage — muitas vezes de forma violenta — contra os próprios profissionais que sustentam o sistema com sacrifícios pessoais.

Médicos, enfermeiros e técnicos enfrentam jornadas extenuantes, sobrecarga e falta de recursos em ambientes degradados. Além dessas condições, encaram uma escalada inadmissível de violência: agressões físicas, insultos, ameaças e até homicídios. Um levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) revela uma ferida aberta: todos os dias, 12 médicos, em média, são vítimas de algum tipo de violência no Brasil.

É fundamental compreender que os médicos não são culpados pelo colapso do sistema. São, junto aos pacientes, as maiores vítimas dele. Atacar profissionais da saúde apenas agrava o sofrimento coletivo e ameaça o pouco que ainda funciona. Combater a violência é tão urgente quanto exigir políticas públicas eficazes, investimentos adequados e condições dignas para todos.

As entidades médicas — Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), Sindicato Médico do RS (SIMERS), Conselho Regional de Medicina do RS (CREMERS) e CFM — têm atuado de forma incansável e vigilante diante dessa “idiossincrasia social”: os efeitos perversos da incapacidade do Estado em oferecer condições para que os profissionais cumpram sua missão com qualidade e dignidade. Nesse contexto, a criação do Observatório de Combate à Violência contra Profissionais de Saúde, junto à Secretaria de Segurança Pública do RS, é um passo importante. A iniciativa visa gerar dados concretos e promover ações para enfrentar essa grave ameaça às relações entre médicos e pacientes.

É hora de devolver aos médicos e aos demais profissionais da saúde o respeito, a proteção e o reconhecimento que lhes são devidos. Porque cuidar de quem cuida de nós é também uma forma de salvar vidas.

Dr. Ricardo Moreira Martins
Diretor do Exercício Profissional da AMRIGS

Dr. Carlos Humberto Ceresér
Membro do Conselho de Representantes da AMRIGS

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