A dança das receitas

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A dança das receitas

 

 

 

            Na abordagem dos pacientes cardiológicos costumamos usar uma tabela que identifica os fatores de risco para doenças cardiovasculares. Nela estão enumerados os fatores de risco não modificáveis tais como raça, idade e história familiar de doenças cardiovasculares, bem como os fatores passíveis de modificação através da orientação médica, que são a obesidade, o tabagismo, a dislipidemia, o sedentarismo, o estresse emocional, o consumo exagerado de bebidas alcoólicas e doenças como hipertensão, hipotiereoidismo e Diabetes mellitus mal controladas.

            Bem, o cardiologista ou mesmo o clínico geral, avaliam cada um desses pacientes e tentam posicioná-los nas três principais categorias de risco: baixo, médio ou alto risco para eventos cardiológicos. A partir daí elaboram uma prescrição médica, que irá incluir medicação, dieta e as alterações necessárias no modo de vida de cada paciente, individualmente. Uma verdadeira obra de arte.

            Como acontece com as obras de arte, que estão sujeitas à interpretações de quem as vê ou admira, entendendo ou não do assunto, o médico atualmente está se deparando com uma situação inacreditável: o principal crítico de suas prescrições é o balconista de certas farmácias. Sim, o balconista de farmácia, pois quem até hoje não foi a uma farmácia e teve a sua medicação de marca trocada por um genérico ou similar, de um laboratório desconhecido”

            Na área da hipertensão e do Diabetes, onde há gratuidade de certos tipos de medicação, trava-se uma verdadeira batalha entre o paciente e o balconista de farmácia. Quando não há a famigerada queda no sistema, a falta do endereço na prescrição com a letra do médico ou a informação errada de que certo tipo de medicação deixou de ser fabricada, o balconista manda o paciente de volta ao médico para que prescreva uma medicação genérica, para que lhe possibilite dar aquilo que tem na sua prateleira, muitas vezes de procedência duvidosa. Ou pior, quando o próprio balconista decide trocar a medicação de acordo com o seu entendimento da receita. Já tive o desprazer por diversas vezes de ver medicação trocada pelo balconista de farmácia por outra totalmente diferente da prescrita e para outras doenças. Muitas vezes descobrimos tais barbaridades quando surgem os para efeitos dos medicamentos e os pacientes acabam no pronto socorro ou mesmo retornam ao consultório, dizendo que o médico lhes deu um remédio que quase os matou ou, então, que não fez o mínimo efeito. É a letra indecifrável do médico, dizem alguns. Porém, nunca o balconista é questionado.

            Vejam, pois, a quantas chegamos. O médico é proibido pela ANVISA de receber qualquer tipo de brinde, mesmo que seja uma simples caneta esferográfica, para não se deixar comprar pelos laboratórios e prescrever os produtos daqueles que costumavam distribuir mimos. Aliás, atitude esta endossada pelos órgãos de classe. Em compensação, tem a sua receita trocada ao bel prazer pelo balconista de farmácia, aquela pessoa que muitas vezes ainda não completou o segundo grau e que começou a trabalhar ontem, no seu primeiro emprego. E ainda falam em regulamentar a profissão médica.

            Pergunto: para que”

 

* Médico cardiologista – correspondente cultural da Sobrames-RS (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores) em Alegrete (RS).

 

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