Tema foi tratado em simpósio realizado em virtude do Setembro Amarelo nesta quinta-feira
A Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) realizou o simpósio “Setembro Amarelo: Compreendendo a relação entre autolesão, depressão e suicídio” na tarde desta quinta-feira (14/09). O evento, que ocorreu no auditório AMRIGS, faz parte das ações da entidade para conscientizar a comunidade sobre a importância da saúde mental.
A abertura do simpósio contou com uma palestra da vereadora, psicóloga e presidente da Frente Parlamentar de Dependência Química da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Tanise Sabino (PTB). Ela discutiu o significado, a origem e a relevância da campanha Setembro Amarelo, enfatizando como todos podem contribuir para a prevenção à vida.
“O suicídio é um sério problema de saúde pública e precisamos quebrar esse tabu, abordá-lo de maneira correta, pois quem pensa em suicídio, na verdade, deseja desesperadamente viver. Portanto, precisamos identificar os sinais e oferecer soluções, porque todas as vidas importam,” afirmou Sabino.
O evento reuniu profissionais de saúde, especialistas em psiquiatria e psicologia, além de autoridades na área, para compartilhar conhecimento, experiências e estratégias no enfrentamento dessas complexas questões.
Compreendendo o comportamento autolesivo, fatores de risco, fatores de proteção e epidemiologia do suicídio
O médico psiquiatra Flávio Milman Shansis, conduziu uma análise aprofundada, com base em um estudo realizado na Universidade do Vale do Taquari (Univates), sobre o comportamento autolesivo, os fatores que o envolvem e como a epidemiologia do suicídio afeta nossa sociedade.
“A falta de conhecimento sobre as causas do suicídio é um desafio significativo, mas é crucial que busquemos respostas e questionemos constantemente nossa abordagem em relação a esse fenômeno desconhecido”, comentou Shansis.
O médico também levantou a importância de avaliar a eficácia da campanha Setembro Amarelo por meio de dados, a fim de ajustar estratégias quando necessário. Shansis destacou que a região do Vale do Taquari apresenta uma taxa de suicídios três vezes superior à média nacional, um fato alarmante.
“Ao lidar com uma tragédia ambiental como a que vivenciamos nas últimas duas semanas, esses números podem aumentar, mas não agora. Daqui a quatro semanas, a atenção com essa região irá diminuir, mas as pessoas afetadas ainda estarão sofrendo”, acrescentou.
Além da tristeza: compreendendo a depressão, rompendo o estigma e promovendo o tratamento
O psicólogo Jader Piccin abordou a depressão em seu painel, destacando a importância de quebrar estigmas e promover tratamentos adequados. Ele explicou que é possível identificar tendências para a depressão desde a adolescência, devido a traumas na infância.
“Sinais como humor deprimido, irritabilidade persistente, redução das atividades prazerosas, alterações no apetite e sono, fadiga, sentimentos de culpa e indecisão são indicadores de depressão que podem ser observados. Sem um diagnóstico adequado, a depressão pode permanecer sem tratamento, uma vez que muitas pessoas não a reconhecem como uma doença. Todos podem contribuir, aprendendo sobre o tema e estando abertos a diferentes formas de tratamento comprovadamente eficazes,” afirmou Piccin.
A primeira parte da tarde foi encerrada pela escritora e palestrante Semadar Marques, que liderou um exercício de mindfulness baseado em comunicação não violenta.
Contribuições do Terceiro Setor na Prevenção do Suicídio
Na segunda parte do evento, Arlei Weide, coordenadora do Centro de Valorização da Vida (CVV), compartilhou sua experiência com o serviço, que foi criado em uma época em que o suicídio era um tabu. O principal objetivo do CVV é tornar a sociedade mais compreensiva, solidária e fraterna.
“Nunca minimizamos a dor de ninguém. A situação muda quando você sabe que há alguém disposto a lhe dar atenção o tempo todo. O desabafo que oferecemos é o que impede que a dor sufoque a pessoa,” explicou Weide.
Carmem Reis, assistente social do Instituto Vida Solidária (IVS), apresentou a entidade sem fins lucrativos, que tem a AMRIGS como mantenedora e que desenvolve ações de saúde, educação e cultura proporcionando oportunidades de vida melhores para crianças em situação de vulnerabilidade, moradoras da Vila São Pedro, em Porto Alegre.
“Oferecemos estabilidade. Neste ambiente, elas recebem apoio afetivo e carinho, frequentemente ausentes em suas casas. Competimos diariamente com as tentações de uma vida mais fácil, com as chamadas das ruas e o abandono da escola. A vida delas não é valorizada, e é isso que buscamos mudar,” declarou Reis.
O Instituto Vida Solidária funciona de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h. A maior necessidade, no momento, é a doação de recursos financeiros que podem ser feitos via PIX através da chave de acesso: CNPJ 07.557.214.0001-02. A instituição também recebe brinquedos e roupas. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail ivs@vidasolidaria.org.br
Semadar Marques encerrou o simpósio com uma palestra inspiradora sobre superar adversidades para encontrar um propósito na vida. Para ela, a saúde emocional envolve a exploração das dores que carregamos.
“Ninguém nos faz sentir algo, somos nós que atribuímos importância e significado a tudo o que nos acontece. Olhar para nossos gatilhos é o que nos torna capazes de melhorar,” disse ela.
Marques também enfatizou a importância de questionar nossos próprios pensamentos e desafiar sistemas de crenças negativas.
O simpósio sobre Setembro Amarelo encerrou uma série de eventos sobre saúde mental da Associação Médica do Rio Grande do Sul em parceria com a Frente Parlamentar de Dependência Química da Câmara Municipal e a Prefeitura de Porto Alegre.
Fonte: Juliana Pereira
Fotos: Thainá Borelli e Juliana Pereira
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