O Brasil adquiriu, recentemente, o posto de país com o maior número de escolas médicas no mundo. Os desafios não são poucos, desde a falta de professores com as titulações necessárias aos cenários de práticas, que são em número insuficiente. Ao propor essa alternativa como política de estado, a responsabilidade que o Governo Federal assumiu transita entre o improvável e o perigoso. A partir da segunda metade da década de noventa, houve a abertura progressiva de diferentes escolas médicas no Brasil, em sua maioria privadas e em municípios onde a infraestrutura para o desenvolvimento do curso, em um bom número, era questionável. Convém lembrar que o conjunto de um curso de medicina é amplo e complexo e o Ministério da Educação faz uma série de exigências de titulação para a composição do corpo docente. Com este número aquém do necessário, pelo apelo do momento, presenciamos a abertura “a cabresto” de uma série de programas de pós-graduação, residências médicas, mestrados e doutorados. Buscam ensinar ou têm o intuito de preencher uma necessidade do mercado de ensino sem a devida preocupação na formação dos novos profissionais”
Além disso, diferentes cursos foram lançados com a alcunha de formar “médicos para o SUS” ou então “médicos para atenção básica”, como se a medicina fosse segmentada e os ciclos de saúde e doenças pertencessem a grupos sociais de maneira discriminatória. A proliferação dos cursos de medicina foi estrategicamente autorizada junto às necessidades eleitoreiras. O fato é que poucos cursos têm a alta carga horária teórica e necessitam tanto de cenários de prática como a medicina requer. Fazem parte da formação médica a atenção básica e os tratamentos de alta complexidade, em seus diferentes detalhes. Ignorar isso é simplificar a realidade, vendendo para a população a ideia de que somente a presença do profissional, independente da qualidade de sua formação, é o suficiente para garantir saúde a todos.
Um médico com formação prejudicada coloca em risco o atendimento daqueles que lhe confiam seu bem maior, principalmente em situações de estresse e vulnerabilidade. Desta forma, não há o que comemorarmos com tal posição que acabamos de ocupar. É necessária a reflexão, o diálogo e principalmente o zelo por aqueles que almejam formarem-se médicos a fim de que a população tenha serviços de profissionais resolutivos e que contribuam sim para o desenvolvimento do nosso país.
Dr. Juliano Chibiaque
Diretor de Comunicação da Associação Médica do Rio Grande do Sul