Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) recebeu seminário sobre prevenção, tratamento e ressocialização
O uso abusivo de substâncias químicas tem consequências devastadoras para a saúde física e mental, além de impactar negativamente nas relações interpessoais, no ambiente de trabalho e na segurança pública. Para debater esse cenário, especialistas estiveram reunidos na tarde desta quinta-feira (06/07), no Auditório da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS). Os palestrantes do Simpósio: Dependência Química falaram sobre prevenção, tratamento adequado e ressocialização dos dependentes. O evento foi realizado no dia 6 de julho, das 13h30min às 18h, e estruturado em três blocos. Para a vereadora e psicóloga Tanise Sabino (PTB), presidente da Frente Parlamentar de Dependência Química, este é um tema que merece atenção.
“É importante destacar que a dependência química é uma doença. Não é falta de caráter ou má vontade. Assim, precisa e merece um tratamento adequado”, disse.
Durante as abordagens foram referidos desafios apresentados nos Centros de Atenção Psicossocial – Caps. As unidades são serviços de saúde de caráter aberto e comunitário voltados aos atendimentos de pessoas com sofrimento psíquico ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool, crack e outras substâncias, que se encontram em situações de crise ou em processos de reabilitação psicossocial.
Solenidade de Abertura
O coordenador do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) II Esperança, Mateus Cunda, falou do desafio cotidiano vivido nas unidades de atendimento. Lembrou que não existe uma receita pronta e defendeu a articulação de uma rede intersetorial e trabalho multidisciplinar. Na sequência, o psicólogo e assessor técnico da Coordenação de Atenção à Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Gabriel Mazinni, destacou a necessidade de pensar na amplitude do problema.
“A interlocução é fundamental e precisa ser ampliada nas políticas públicas. O termo dependência química é forte, mas bastante limitado para representar o problema. Não basta só olhar para o aspecto químico. Sem acesso a trabalho, renda e direitos básicos, não vamos conseguir dar conta de atender às demandas que se apresentam”, alertou.
O secretário municipal de Educação de Porto Alegre, José Paulo Rosa, destacou experiências em outros países que foram bem sucedidos baseados na educação.
“São países que conseguiram mudar o seu patamar a partir da educação, principalmente a básica. As escolas carecem de bastante investimento e eu acredito que isso é possível. A família e sociedade precisam estar juntas nesse trabalho”, salientou.
Na visão do secretário de Desenvolvimento Social da capital, Léo Voigt, a causa da saúde mental exige uma atenção. Em sua fala, lembrou a experiência do acolhimento de moradores de rua quando as autoridades lidam com o grande desafio que são negativas dos moradores serem transferidos para abrigos.
Palestras orientam e chamam a atenção para importância do problema
A primeira apresentação foi do coordenador do Programa Oficial de Prevenção da Polícia Civil, Rodrigo Cachoeira, que abordou o trabalho desenvolvido nas escolas chamado “Papo de Responsa”. No Rio Grande do Sul, o projeto já conversou com mais de 330 mil jovens.
A seguir, Charles Dan, empreendedor social, falou dos desafios e estratégias na reinserção social e profissional. Ele contou a sua trajetória de superação. Morador do bairro Restinga, contou o período difícil quando era usuário de drogas e passou por tentativas de tirar a própria vida diante de frustrações e decepções.
“O apoio da família foi fundamental. Sei que é difícil, porque a família sofre muito com o drogado. Me encontrei através da minha esposa e filho. Foi onde busquei auxílio com a tricotomia espírito, alma e corpo. Hoje faz vinte anos que eu vivo uma nova história”, relatou.
A palestra final foi apresentada pelo médico Sérgio de Paula Ramos, psiquiatra e psicanalista. Ele discorreu sobre o tratamento da dependência química, destacando as abordagens farmacológicas e terapêuticas mais recentes.
“Precisamos descobrir a porta de entrada do paciente. Sem isso, nada prospera. O passo inicial é o vínculo com o paciente porque muitas vezes é difícil dele começar a falar sobre o assunto”, explicou.
Durante a explanação, o especialista detalhou as etapas da motivação à prevenção da recaída. O processo passa por fases de desintoxicação, aderência ao tratamento, mudança do estilo de vida e prevenção da recaída.
A iniciativa foi da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), em parceria com a Frente Parlamentar de Dependência Química, presidida pela vereadora e psicóloga Tanise Sabino (PTB), da Prefeitura de Porto Alegre. O apoio foi da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, SICREDI e Grupo A Educação.
Fonte: Marcelo Matusiak
Fotos: Marcelo Matusiak
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