Evento na AMRIGS apresentou a criação literária “Moacyr Scliar: medicina, saúde pública e história”, do médico Germano Mostardeiro Bonow
Relatos emocionantes e fatos inusitados fazem parte de um resgate da vida e da carreira como médico e escritor de um dos nomes mais importantes da história do Rio Grande do Sul: Moacyr Scliar. O bate-papo promovido pela Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) entre os personagens que integram a construção da obra literária não foi realizado, por acaso, no dia 23 de março. A data celebra o nascimento do médico e escritor que, neste ano, completaria 85 anos.
“Para construção do livro foi feito um trabalho intenso de pesquisas, balizado com a ideia de proporcionar um resgate da história com foco na Medicina. A esposa, Judith, foi fundamental. Outro lado importantíssimo foi a visão de Jair Soares que sabe bem a quantidade de informações que a Secretaria da Saúde, à época, dispunha”, comentou o médico autor do livro, Germano Mostardeiro Bonow.
A conversa foi mediada pelo presidente da AMRIGS, Gerson Junqueira Jr.
“Não se trata só de uma obra sobre Moacyr Scliar, mas de um retrato contemporâneo da história da Medicina e da saúde pública”, afirmou.
A atividade, realizada de forma híbrida no auditório da AMRIGS, integrou a programação oficial dos 250 anos de Porto Alegre. Entre os presentes estiveram o secretário municipal da Saúde, Mauro Sparta; o ex-presidente da AMRIGS, Alfredo Floro Cantalice Neto; o diretor de Finanças, Breno José Acauan Filho e o diretor do Exercício Profissional da AMRIGS, Ricardo Moreira Martins.
“Estamos muito gratos e satisfeitos por fazer parte desse encontro. É um nome que merece todo o respeito. Foi um médico sanitarista dos mais importantes do estado e um escritor ilustre. Ele era de uma simplicidade incrível e uma pessoa maravilhosa”, afirmou o representante da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM), Valter Duro.
Resgates históricos
A participação na primeira sessão de hemodiálise no Rio Grande do Sul em 1963, foi uma das lembranças resgatadas pelos participantes. Scliar havia sido selecionado para fazer residência no serviço de enfermaria da Santa Casa de Porto Alegre. Formou-se uma equipe de nefrologistas excepcional da qual fazia parte o Dr. Moysés Lerrer. Segundo Scliar, esses mestres estavam entre os que iniciaram a nefrologia gaúcha juntamente com Oly Lobato.
“O paciente veio com um quadro clínico de uma mordida de aranha e havia uma disponibilidade de um equipamento ainda fechado. O médico Moyses Lerrer tinha experiência e montou o equipamento para salvar o paciente. Foi a primeira sessão de hemodiálise do RS e o Moacyr Scliar participou junto”, recordou Bonow.
Judith Scliar (especialista em educação e esposa de Moacyr Scliar) ressaltou que Moacyr sempre dizia que a Medicina, bem como a Literatura, eram um mergulho na condição humana.
“Ele sempre soube que queria ser médico. Nunca considerou outra possibilidade. Foi um misto de atração e pavor de doença, pois sempre ficava muito assustado quando qualquer um na família adoecia. Desde a época do segundo grau ficava na porta do hospital olhando as ambulâncias entrando e saindo”, disse.
Jair Soares (ex-governador do RS e Sócio Benemérito da AMRIGS) salientou a participação importante de Scliar na ocasião em que o Rio Grande do Sul enfrentou um aumento de casos de meningite meningocócica.
“Naquela situação, ele foi muito importante. Conhecendo o histórico de propagação da doença, sabia-se que logo ela chegaria ao nosso estado. Então, resolveu-se fazer um convênio com a AMRIGS e foram chamados todos os jornalistas para mostrar o que era a doença para que houvesse uma orientação adequada e não causasse pânico na população. Foi feito um boletim semanal”, lembrou Jair Soares.
O livro
O trabalho foi resultado de uma pesquisa empreendida por Dr. Bonow, amigo de Moacyr Scliar e membro do Conselho de Representantes da AMRIGS. A construção literária levou cinco anos e partiu de uma sólida base documental de publicações e de centenas de crônicas. O autor recria aspectos da infância e da mocidade de Scliar, detendo-se na sua formação médica, nas atividades como sanitarista e em escritos humanistas.
A obra pode ser adquirida no Centro Histórico Cultural Santa Casa e nas livrarias.
Fonte: Marcelo Matusiak
Fotos: Marcelo Matusiak
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