Conjunto de exames desenvolvido no InCor permite identificar crianças e adolescentes com mais risco de sofrer complicações graves se submetidos à cirurgia corretiva
Uma nova metodologia desenvolvida por pesquisadores do Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) permite avaliar crianças e adolescentes portadores de cardiopatia congênita e identificar aqueles que têm mais risco de morrer ou de sofrer complicações graves se submetidos à cirurgia corretiva. Além de evitar um sofrimento desnecessário para esses jovens e seus familiares, o objetivo do trabalho é otimizar os recursos da instituição, reduzindo custos e a fila de espera.
Atualmente, há cerca de 560 pacientes com cardiopatias congênitas aguardando tratamento cirúrgico no InCor. O tempo de espera depende da gravidade do paciente, mas pode chegar a mais de dois anos, de acordo com a fisioterapeuta Emilia Nozawa, coordenadora da pesquisa.
Nozawa, fisioterapeuta-chefe do InCor e orientadora do Programa de Cardiologia da FMUSP, idealizou um conjunto de testes para medir, entre outros indicadores, a capacidade cardíaca submetida ao esforço e à função pulmonar. Em seguida, identificou algumas variáveis que podem interferir positiva ou negativamente no resultado do procedimento cirúrgico.
O “Estudo do teste de caminhada de 6 minutos, variabilidade da frequência cardíaca, função pulmonar e força muscular respiratória em crianças e adolescentes submetidos a correção cirúrgica de cardiopatia congênita”, apoiado pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa Regular, envolveu o trabalho de doutorado de Angela Sachiko Inoue, orientada por Nozawa, que deve ser defendido em meados de 2012.
Participaram da pesquisa 81 jovens com idade entre 7 e 18 anos, avaliados em três momentos: antes da cirurgia, no dia da alta hospitalar e 90 dias depois de deixar o hospital.
Cinquenta pacientes completaram as três fases do estudo. Cinco morreram e quatro ficaram internados no hospital por um tempo maior que os 30 dias previstos. Os outros 22 não retornaram para a terceira avaliação.
Todos eles fizeram o teste de caminhada de 6 minutos (TC6M), que avalia quantos metros o paciente consegue andar durante esse tempo. Foi medida a saturação de oxigênio no organismo antes e após o esforço e o grau de cansaço.
Os pacientes também foram submetidos à espirometria, para avaliar a função pulmonar, e a um exame que mede a pressão inspiratória (PImax) e a pressão expiratória (PEmax), ou seja, a força muscular do sistema respiratório para contrair e relaxar.
Foi medida também a variação da frequência cardíaca e da pressão arterial. A coleta de dados começou em janeiro de 2009 e foi concluída em junho de 2011.
“Os pacientes que andavam menos que 422 metros no pré-operatório, tinham pequena variação do batimento cardíaco e saturação de oxigênio menor que 95% foram os que morreram ou ficaram muito tempo internados na UTI por causa das complicações”, disse Nozawa.
“São pacientes de alto risco que necessitam de mais atenção no momento da decisão cirúrgica. Nesses casos, a proposta cirúrgica deveria ser repensada pelos médicos e familiares”, disse.
Outro indicador que se mostrou importante durante a pesquisa foi o índice de massa corporal (IMC). Em média, os jovens tinham IMC de 17,9 – considerado normal acima de 18,5. “Os pacientes com IMC mais baixo foram os que mais apresentaram complicações infecciosas no pós-operatório”, disse a pesquisadora.
Cuidados paliativos
Na opinião de Nozawa, a melhor indicação para os casos de alto risco são os cuidados paliativos. “O longo tempo de internação desestrutura as famílias, onera muito o hospital e não permite a rotatividade de pacientes. Além disso, essas crianças sofrem demais e, no final, acabam morrendo”, afirmou.
Segundo ela, é um problema que tende a se tornar cada vez mais frequente. Com a evolução da medicina, mais recém-nascidos com cardiopatia congênita chegam à adolescência e à idade adulta.
“É muito comum nesses casos fazer apenas uma cirurgia paliativa quando a criança nasce. Os médicos então esperam a criança ganhar peso e ficar mais forte para fazer a cirurgia definitiva. Mas algumas pessoas passam por duas e até três operações e nunca ficam curadas”, contou.
Nozawa ressalta que a avaliação da gravidade de um conjunto de alterações tão diversificada é muito difícil, mas necessária e com implicações terapêuticas importantes.
Entre os 81 pacientes que participaram da pesquisa, 70% haviam sido submetidos a cirurgias anteriores. O preço médio do procedimento para tratar cardiopatias congênitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) está em torno de R$ 12 mil. Nesse valor não estão inclusos o gasto com material nem o tempo de internação em UTI ou enfermaria.
A pesquisa coordenada por Nozawa contou com a colaboração de Ana Cristina Sayuri Tanaka e Antonio Augusto Lopes, do Serviço de Cardiopatias Congênitas do InCor. Também colaborou Filomena Regina Gomes Galas, diretora do serviço de Anestesiologia e UTI Cirúrgica do InCor.
Os resultados parciais foram apresentados no Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, no Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória, realizado em Porto Alegre, e no European Respiratory Society Annual Congress, em Barcelona. Também foram submetidos à Revista Portuguesa de Cardiologia.
“Os médicos do InCor já estão adotando essa metodologia para planejar o tratamento dos pacientes e isso já começou a mudar a rotina por lá. A ideia pode ser expandida também para outros hospitais”, disse Nozawa.
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