Doença atinge crianças desde o nascimento e é uma das principais causas de cegueira evitável. Pais devem ficar atentos ao comportamento visual, à presença de reflexos anormais ou manchas nos olhos dos bebês.
Vittor Alexandre é examinado pelo oftalmologista Ian Curi, após cirurgia nos olhos.
“Com um ano e meio Gustavo começou a ficar estrábico”. O relato da mãe Alzira de Jesus data o início da busca por diagnóstico para o problema na visão do filho, que não teve nenhum apontamento no exame do olhinho, realizado após o seu nascimento. Em julho deste ano, aos três anos e meio, ele passou por uma cirurgia de correção da catarata, no Serviço de Oftalmologia do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), no Rio de Janeiro.
A observação dos pais também foi fundamental para identificar um indício de problema na visão do pequeno Vittor Alexandre. Os pais notaram o surgimento de bolinhas brancas nos dois olhos e uma forma diferente de olhar objetos e pessoas. “Ele abaixava a cabeça e olhava para cima para tentar enxergar as coisas”, explica a mãe Renata. Ao nascer, a criança não realizou o teste do olhinho. Já com dois anos e nove meses, este mês ele também passou por cirurgia no hospital.
Apesar da maior frequência em adultos, a catarata também pode ocorrer em crianças e é uma das principais causas de cegueira evitável na faixa etária pediátrica. De acordo com Ian Curi, oftalmologista do HFSE, a catarata infantil é qualquer opacidade que ocorre no cristalino (lente transparente dentro do olho) de uma criança. Funciona como um vidro opaco, através do qual ela não enxerga adequadamente.
O diagnóstico da doença pode ser feito no teste do reflexo vermelho (ou teste do olhinho), que deve ser realizado pelo pediatra ainda na maternidade. “Os pais devem estar atentos ao comportamento visual de seus filhos e também à presença de reflexos anormais ou “manchas” nos olhos dos bebês. Quando perceberem alterações, devem buscar um oftalmologista com urgência”, orienta Ian. Infecções como toxoplasmose, rubéola, sífilis, herpes, entre outras, podem desencadear a doença, de acordo com o especialista.
O tratamento pode ser cirúrgico ou, em caso de cataratas muito pequenas, recebe abordagem clínica. Neste último caso, a criança é acompanhada e o tratamento envolve o uso de óculos, tampão e/ou colírios. Os casos cirúrgicos são complementados com um período de reabilitação visual para que o cérebro “aprenda” a enxergar. Isso envolve um acompanhamento prolongado durante toda a infância. Ian explica que os resultados buscam a melhor visão possível respeitando-se as potencialidades de cada caso. Abaixo, o oftalmologista esclarece dúvidas sobre a doença e dá dicas para a prevenção.
Blog da Saúde: A Catarata pode causar cegueira em crianças”
Ian Curi: A catarata é uma das principais causas de cegueira evitável na faixa etária pediátrica. Ela funciona como um vidro opaco, através do qual a criança não enxerga adequadamente. O cérebro do bebê e da criança apresenta acelerado desenvolvimento e a estimulação nos primeiros meses de vida é essencial. Quando um ou ambos os olhos apresentam alguma dificuldade em receber estímulos do ambiente, isso impacta as áreas cerebrais relativas à visão e pode haver um comprometimento irreversível. É o que denominamos ambliopia (olho preguiçoso).
Blog da Saúde: Como a catarata é diagnosticada” Que sinais devem ser observados pelos pais”
Ian Curi: O teste do reflexo vermelho (ou teste do olhinho) já é obrigatório por lei em quase todos os estados brasileiros. Ele deve ser realizado pelo pediatra ainda na maternidade. Muitas doenças, inclusive a catarata, podem ser rastreadas com este exame, que, quando anormal, leva à necessidade de consulta oftalmológica imediata. Os pais devem estar atentos ao comportamento visual de seus filhos e também à presença de reflexos anormais ou “manchas” nos olhos dos bebês. Quando perceberem alterações, devem buscar um oftalmologista com urgência.
Blog da Saúde: Ela pode ter alguma ligação com doença ocorrida na gestação”
Ian Curi: Cerca de 60 % das cataratas em crianças não têm uma causa definida. Quando presente em apenas um olho, a chance de haver uma causa é menor. Durante a consulta da criança é fundamental os pais citarem dados da gestação, do pré-natal e do parto, pois infecções como toxoplasmose, rubéola, sífilis, herpes, entre outras, podem levar à catarata. Em alguns casos, fazemos uma avaliação genética, quando há suspeitas de que haja alguma síndrome associada à catarata.
Blog da Saúde: Qual é o tratamento”
Ian Curi: É importante ressaltar que nem todos os casos são cirúrgicos. Cataratas muito pequenas, com obstrução parcial da visão eventualmente são acompanhadas e a criança pode receber uma abordagem clínica, que pode envolver óculos, tampão e/ou colírios. O oftalmologista pode definir quais casos devem ser operados. O tempo entre o diagnóstico e o procedimento é fundamental para o sucesso terapêutico. Muitas operações são realizadas entre a 4ª e a 8ª semana de vida. Depois do procedimento inicia-se o período de reabilitação visual.
Blog da Saúde:Como é feita esta reabilitação visual”
Ian Curi: O olho operado precisa ser estimulado adequadamente para que o cérebro “aprenda” a enxergar. Isso envolve um acompanhamento prolongado durante toda a infância, podendo abranger uso de óculos, lentes de contato, tampão, além de novos procedimentos cirúrgicos.
Blog da Saúde: Há algo que os pais têm que acompanhar após a cirurgia”
Ian Curi: Os pais precisam seguir à risca todas as orientações médicas, principalmente no que diz respeito ao uso de óculos e tampão, além de comparecer assiduamente às consultas, nas quais a criança é avaliada em vários aspectos, como acuidade visual, exame de grau, pressão intraocular e fundo de olho.
Blog da Saúde: Quais os resultados esperados após a realização da cirurgia”
Ian Curi: Os resultados dependem do diagnóstico e tratamento precoces. Com isso, busca-se a melhor visão possível respeitando-se as potencialidades de cada caso.
TESTE DO OLHINHO “ O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece, por meio do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), instituído em 2001, exames capazes de identificar doenças genéticas e ou congênitas, passíveis de tratamento, mas que não apresentam evidências clínicas ao nascimento. Disponibiliza acesso universal e integral às triagens neonatais conhecidas como Teste do Pezinho, da Orelhinha, do Olhinho, da Linguinha e do Coraçãozinho. O Teste do Olhinho (Triagem Neonatal Ocular – TNO) faz parte das ações de boas práticas do exame físico do recém-nascido ainda na maternidade, realizando o exame de inspeção e Teste do Reflexo Vermelho (TRV). Todos os nascidos devem ser submetidos ao TRV antes da alta da maternidade e pelo menos duas a três vezes ao ano nos três primeiros anos de vida. Uma vez detectada qualquer alteração, o neonato precisa ser encaminhado para esclarecimento diagnóstico e conduta precoce em unidade especializada.