Palestra da AMRIGS mostra que diagnóstico e aceitação do autismo são desafios a serem superados

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Palestra da AMRIGS mostra que diagnóstico e aceitação do autismo são desafios a serem superados

Evento virtual e gratuito abordou a importância do diagnóstico precoce, tratamentos e contou com relato de uma ativista do movimento autista

Nesta quinta-feira (15/04), a Associação Médica do Rio Grande do Sul realizou mais uma edição gratuita do Ciclo de Palestras AMRIGS, desta vez com o tema “Abril Azul: uma conversa sobre autismo”. O evento teve mediação do médico especialista em Medicina do Trabalho e diretor de Patrimônio e Eventos da AMRIGS, Dr. João Luiz Cavalieri Machado, e contou com a participação da médica psiquiatra, Dra. Gledis Lisiane Motta; do médico neurologista infantil e neurofisiologista clínico, Dr. Josemar Marchesan e do médico pediatra, Dr. Renato Santos Coelho.

A programação iniciou com o relato da ativista do movimento autista e mãe de paciente com Transtornos de Espectro Autista (TEA), Patrícia de Souza Machado. Ela contou que seu filho, Francisco, foi diagnosticado aos dois anos de idade e não apresentava sinais de transtorno.

“Enquanto bebê, ele sorria, engatinhava e me olhava como qualquer outra criança, então, só percebi o atraso quando fomos questionar a questão da fala, pois ele não se comunicava. Com o diagnóstico, vivi o luto de um momento idealizado. Agora, com cinco anos, ele é uma criança não-verbal e que se mostra mais agitada e com mais intensidade nas crises em função do isolamento social. Esse impacto faz com que a gente reflita, e também, veja a importância de olharmos para nós mesmo e cuidarmos mais de quem cuida”, contou.

No Brasil, segundo estimativas globais da ONU, são aproximadamente 2 milhões de pessoas com Transtornos de Espectro Autista (TEA). Para o médico pediatra, Dr. Renato Santos Coelho, um dos maiores desafios está nas dúvidas sobre o diagnóstico e o entendimento do processo de aceitação.

“O processo de negação dos pais é compreensível e aceitável, ele vem de forma inconsciente, como um mecanismo de defesa. A desidealização pode ser demorada, então, é importante que os pediatras detectem os sintomas e sinais que uma criança não corresponde ao tempo necessário e reconheçam isso da forma mais precoce possível”, disse.

Para ele, não existe uma estratégia de tratamento, pois trata-se de trabalhar com um ser em desenvolvimento em um processo de maturação, na medida em que as intervenções entram no processo de cuidado e as respostas aparecem aos poucos.

“Algumas crianças possuem atraso no desenvolvimento. É importante termos o diagnóstico precoce, mas não precipitado. Cada situação tem suas peculiaridades. As crianças pequenas mostram sinais precoces de sofrimento ou de que não estão bem, principalmente através do choro. O pediatra precisa ter a habilidade de entender o que é um choro excessivo e tentar decodificar. Além do choro, a falta de sono e sintomas na área digestiva também são sinais precoces de sofrimento, são manifestações de que alguma coisa não está bem”, alertou.

Já do ponto de vista da psiquiatria, o impacto que o isolamento social causa nesta parte da população contribui para uma série de transtornos que foram desencadeados durante a pandemia. A médica psiquiatra, Dra. Gledis Lisiane Motta, comentou que as crianças estão deixando de fazer intervenções importantes e, além disso, alguns profissionais foram afastados ou ficaram doentes, uma realidade nos serviços que dificulta o recebimento de estímulos adequados.

“As crianças pioraram muito pois, além de não fazerem as intervenções, não recebem mais os estímulos necessários, como ir para a escola, ao parque, andar de balanço ou brincar na praça. Minha dica para os pais é que procurem conteúdos na internet para trabalhar as habilidades dentro das possibilidades de cada um. É importante que, de alguma forma, as crianças sem mantenham em atividade. Se for buscar um profissional, é fundamental exigir uma avaliação formal e pesquisar a avaliação para garantir a melhor intervenção para a criança”, falou.

De acordo com o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais, as manifestações do transtorno também variam muito e dependem da gravidade da condição autista, do nível de desenvolvimento e da idade cronológica. Conforme explicou o médico neurologista infantil e neurofisiologista clínico, Dr. Josemar Marchesan, as terapias comportamentais estruturadas são os únicos remédios para o autismo.

“Todo tratamento medicamentoso é voltado para sintomas associados, e não para o Transtornos de Espectro Autista. Existem remédios que tratam agitação e irritabilidade, mas comprovadamente com ensaio clínico, não existem remédios bem referendados para autistas”, destacou.

Tratamentos como musicoterapia e a pet terapia, segundo ele, influenciam muito, mas os que ganham mais força são os trabalhos com terapias comportamentais de alta intensidade, como o modelo Denver, que utiliza Análise do Comportamento Aplicada (ABA, sigla em inglês). Marchesan lembrou que, se em três meses o paciente não apresentar melhora evidente, é preciso mudar a técnica ou intensidade do tratamento.

A realização do Abril Azul: Uma conversa sobre autismo” é da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), através da campanha “Saúde Preventiva: Pratique essa ideia!”. O evento contou com o apoio da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), da Sociedade de Neurologia e Neurocirurgia do Rio Grande do Sul (SNNRS) e da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS).

Fonte: Fernanda Calegaro
Fotos: Reprodução de imagem 

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