Microrganismos resistentes a antibióticos causam preocupação em governos e autoridades de saúde em todo o planeta. Mobilização mundial seria necessária para combater o problema
Nesta terça-feira (23), o pronto-socorro do Hospital Municipal de Guarulhos, São Paulo, foi interditado devido à contaminação do local pela bactéria Acinetobacter baumannii, que causou a morte de quatro pacientes entre maio e junho. No fim do último mês passado, outras três pessoas morreram devido a infecções no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), no Distrito Federal. Duas foram diagnosticadas com enterococo e uma com Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC), que estão na lista de bactérias com resistência a antibióticos.
O problema não é novo. Microrganismos como esses espalham-se pelos hospitais do mundo todo e preocupam as autoridades de saúde. Surgiram por causa do uso incorreto e indiscriminado de antibióticos. Algumas pessoas, ao melhorar, interrompem o tratamento prescrito pelo médico e em decorrência disso, as bactérias não são eliminadas e assim desenvolvem resistência ao antibiótico.
As superbactérias costumam atacar em hospitais, principalmente nos centros cirúrgicos. Isso acontece, porque nesses locais os pacientes costumam estar com o organismo debilitado e, se os procedimentos de higienização e desinfecção não forem corretamente efetuados, pode haver a entrada e o rápido desenvolvimento desse tipo de germe nos pacientes.
Depois que entram em um organismo enfraquecido, essas bactérias causam infecções difíceis de curar, podendo levar o indivíduo à morte. Costumam ser combatidas com antibióticos muito fortes, que podem gerar efeitos colaterais indesejados no organismo dos pacientes.
De acordo com o Dr. Alberto Chebabo, médico infectologista e coordenador de Bacteriologia Clínica da Sociedade Brasileira de Infectologia, além das medidas básicas de desinfecção, nos hospitais também se deve “identificar os pacientes que tenham bactérias super-resistentes no organismo e imediatamente coloca-los em restrição de contato, a fim de diminuir o risco de transmissão cruzada dessas bactérias no ambiente hospitalar”. Ele ainda acrescenta que “fora dos hospitais é preciso reduzir o uso inadequado de antibióticos, especialmente os de amplo espectro, que são aqueles utilizados contra um grande número de bactérias, pois isso aumenta a chance de surgirem microorganismos resistentes”.
Segundo projeções do instituto de pesquisas Rand Europe e da empresa de consultoria KPMG, as superbactérias matarão pelo menos 10 milhões de pessoas por ano a partir de 2050. O premiê britânico, David Cameron, indicou o economista Jim O”Neill, ex-presidente do grupo financeiro Goldman Sachs, para criar um plano de combate ao problema.
O”Neil propôs que seja feita uma coalisão de diferentes países em torno de um fundo de investimento para afastar a ameaça de “superbactérias”, no futuro. Segundo a proposta, o fundo teria que investir cerca de US$ 2 bilhões nos próximos cinco anos, estimulando, assim, a indústria farmacêutica a desenvolver uma nova classe de antibióticos capaz de eliminar esses germes.
Uma área promissora de pesquisa desenvolveu compostos chamados “quebradores de resistência”, uma alternativa mais barata e eficaz para combater o problema. Essas substâncias aumentam a eficácia dos antibióticos já existentes, ao reduzir a resistência bacteriana a eles.
As superbactérias surgiram como um dos principais problemas de saúde pública da última década. O fenômeno tem apresentado constante crescimento e, por enquanto, esses microrganismos se mostram bastante resistentes à maioria dos antibióticos. Por isso, as medidas de prevenção e de controle são indispensáveis em todos os hospitais, centros cirúrgicos e quaisquer outros ambientes que estejam sujeitos à sua proliferação.