A transfusão de sangue sempre fez parte da vida de Telma Santos. Quando criança, ela chegou a precisar de duas transfusões por mês por conta da doença falciforme, uma alteração nos glóbulos vermelhos que dificulta a passagem do sangue nos vasos, além de comprometer a oxigenação dos tecidos. Atualmente, aos 48 anos, ela recebe doação de sangue pelo menos duas vezes ao ano. “Para nós, a doação de sangue é vida. É salvar nossa vida mesmo. Sem a transfusão, eu não estaria aqui”, conta Telma, que é professora de uma escola de ensino fundamental no Distrito Federal. Mesmo com essa frequência de transfusão, ela sabe que pode confiar na qualidade do sangue recebido. “Eu sei que hoje em dia tem um controle bastante seguro. As pessoas passam por uma bateria de exames para detectar vírus e doenças, para ver se podem fazer a doação”.
TRIAGEM
E esse controle citado por Telma é mesmo importante tanto para o doador quanto para quem recebe o sangue. Por isso, o candidato a doador de sangue passa pela triagem clínica e laboratorial. Segundo a chefe do Núcleo de Captação de Doadores da Fundação Hemocentro de Brasília (FHB), Kelly Barbi, existem várias regras de saúde e vigilância sanitária para coibir ao máximo a possibilidade de doação de sangue contaminado. “Essa é a forma de diminuir riscos e possibilidades de uma contaminação por conta da janela imunológica”, explica.
Na etapa da pré-triagem, são coletados dados físicos gerais do doador como pressão arterial, altura e peso, além da realização do teste para detectar anemia. Em seguida, o candidato a doador passa pela triagem clínica. Neste momento, ele responde a 40 perguntas sobre seu estado de saúde, alimentação, uso de medicação, hábitos de vida, entre outros temas. A sinceridade do candidato é fundamental para garantir a segurança e qualidade do sangue, explica Barbi. “O Brasil está muito avançado na hemoterapia. Aqui, a doação não é remunerada. A doação de sangue envolve o ato altruísta e solidário, o que reforça o compromisso do doador”, reforça.
A taxa de inaptidão do doador na triagem clínica é de 25% no Hemocentro de Brasília. “Nós trabalhamos para familiarizar as pessoas com o processo. É importante que ela saia esclarecida e já com a orientação de que não pode doar hoje, mas pode vir daqui uma semana ou um mês”, explica Barbi. Segundo ela, a questão da alimentação e hidratação no dia ou na véspera da doação é fundamental para garantir a coleta do sangue.
LABORATÓRIOS
Depois da triagem clínica, o candidato a doador vai para a coleta do sangue. Junto com a bolsa, que recolhe cerca de 400 ml, a equipe do hemocentro retira cinco tubos de amostras para realizar exames de sorologia, Imunohematologia e NAT. “O controle para realizar a doação segue o que há de mais novo no mundo. Utilizamos técnicas e equipamentos validados, com dupla conferência”, explica Bárbara Maciel, gerente da Gerência de Laboratórios da FHB.
Os testes de sorologia detectam risco para infecção por hepatites B e C, HIV, sífilis, chagas e HTLV. O método utilizado é a quimiluminescência de alta sensibilidade, que consegue identificar infecção no período inicial.
Também é utilizado o teste NAT, de biologia molecular, para identificar o antígeno viral do HIV e das hepatites B e C. “Em caso de resultado positivo ou inconclusivo, a gente não libera a bolsa. Ela é descartada e o doador é chamado para fazer nova testagem. Caso positivo, ele será encaminhado para o serviço de referência”, explica Maciel, que, segundo ela, 2% das amostras são descartadas após análise laboratorial. “Trabalhamos com o máximo de garantia que o mundo trabalha hoje em dia”, garante.
CRITÉRIOS PARA DOAR
Podem doar pessoas com peso mínimo de 50 quilos que tenham entre 18 e 69 anos. Também podem ser aceitos candidatos à doação de sangue com idade entre 16 e 17 anos havendo o consentimento formal do responsável legal. O candidato deve estar descansado, não ter ingerido bebida alcoólica nas 12 horas anteriores à doação e não estar em jejum. Além disso, no dia da doação é importante estar bem hidratado e continuar a hidratação em seguida, além de tomar o refresco ou o lanche que o local da coleta oferece.
Quem for doar precisa levar um documento oficial com foto. Além disso, é normal que aconteça uma redução no estoque de sangue dos hemocentros de todo o país com a chegada de feriados prolongados e férias escolares. Nessas épocas, as pessoas mudam suas rotinas, viajam ou aproveitam para descansar e, por isso, não doam sangue. Por isso , para ajudar a manter os estoques em alta , é essencial doar durante as férias e antes de viajar.
Para a segurança do receptor do sangue, estão impedidos de doar aqueles que tiveram diagnóstico de hepatite após os 11 anos de idade, pessoas que estão expostas a doenças transmissíveis pelo sangue como aids, hepatite, sífilis e doença de chagas, usuários de drogas, aqueles que tiveram relacionamento sexual com parceiro desconhecido ou eventual sem uso de preservativos, e mulheres grávidas ou amamentando.